A MILO DE VÉNUS: O Rui Tavares do Barnabé ( link directo indisponível, as minhas desculpas) alude hoje ao lapso freudiano, num curioso texto sobre as eleições americanas. Diz o Rui que os bushistas pretendem conciliar dois argumentos inconciliáveis: "Se Kerry ganhar vai ser uma desgraça e se Kerry ganhar nada vai mudar". Ou seja, o lapso consistirá no reconhecimento implícito, para os bushistas, da desgraça que é a situação actual. Seria interessante irmos pela lógica da argumentação, mas iremos antes pelas teses do Dr. Freud.
Os lapsos ou actos falhados foram de facto celebrizados pelo psicanalista na Introdução à Psicanálise, uma série de lições publicadas entre 1916 e 1917, embora já muito antes um psiquiatra e um filólogo ( Meringer e Mayer, em 1895) se tivessem interessado pelo assunto. A Milo de Vénus é um exemplo inconsequente de acto falhado, tanto quanto não o é a confissão da mulher do marido pau-mandado ; este, sentido-se mal, foi ao médico mas o clínico não lhe recomendou nenhum regime alimentar especial; a mulher relatou então a Freud: "o médico disse ao meu marido que ele podia comer o que eu quisesse". A vontade de não irmos a um concerto com uma tia aborrecida pode levar a inexplicavelmente não sabermos onde estão as chaves do carro, o que constitui outro exemplo de acto falhado.
Assim o Rui Tavares explica a argumentação baseada no duplo vaticínio de desgraça+continuidade, que assombra, para os pró-Bush, uma possivel vitória de Kerry: a argumentação, que se quer lógicamente sustentada, é traida pelo reconhecimento encoberto de que Bush tem feito um mau trabalho. Original, esta análise freudiana do Rui, embora me pareça um pouco forçada dado o contexto em que é aplicada.
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