NOTÍCIAS DA NOSSA MORTE (II): Subsiste no entanto um problema que em política não se pode escamotear: as dificuldades naturais criadas às pessoas pelo governo, por qualquer governo, serão sempre imputadas ao partido maior, ao mais importante, ou seja, ao PSD (não porque o CDS renegue as suas responsabilidades mas apenas porque as coisas são assim mesmo). Será o PSD, acaso a população queira criticar o governo em 2006, aquele que ficará ferido nas eleições.
Por seu turno, ao CDS ser-lhe-á permitido chamar a si as responsabilidades positivas da governação. Por outro lado, concorrendo separados, o CDS terá sempre o apoio (interesseiro, claro) do PS, que fará seguramente a separação das águas para afastar o eleitorado do PSD para o CDS (o PS pretende apenas ter mais um voto do que o PSD para formar governo pelo que todos os votos que conseguir fazer passar do PSD para o CDS serão importantes para o PS).
Ou seja: esta coisa que se quer fazer crer de que o facto dos partidos do governo concorrerem coligados em 2006 aproveita o CDS não é inteiramente verdade. Não é sequer verdade: aproveita a ambos os partidos. Aproveita - ou, melhor, aproveitará - ou não aproveitará; mas é do interesse de ambos concorrerem coligados como é do interesse de ambos concorrerem separados: ambas as situações têm vantagens e inconvenientes para ambos e a decisão que tomarem deverá ter em conta muito mais do que aqui se diz. Não querer ver isto é não querer discutir política e apenas pretender-se dar azo aos pequenos ódiozinhos. E pensar-se que o CDS possa ter medo de ir sozinho a eleições é não conhecer o CDS nem Paulo Portas.
Caro Vasco Concordo no essencial com a tua análise. Contudo, não posso deixar de te dizer o essencial com esta fábula:
Uma formiga e um elefante correm no deserto. Diz a formiga para o elefante: "Olha para trás e vê a poeirada que vamos a fazer!"
Digo-te ainda que o CDS de facto já morreu. Existe hoje outro partido com algumas caras em comum. Freitas do Amaral, Lucas Pires e Manuel Monteiro (só para mencionar anteriores líderes do CDS) afastaram-se, ou forma afastados, do projecto inicial. O PP de hoje não é bem um partido, é mais um ajuntamento de interesses sem ideal definido (longe vai o tempo em que o PP tinha grupo parlamentar europeu bem definido à direita). Para além da astúcia do Portas, da paixão do Félix e da diplomacia do Guedes .... o que resta, ódios velhos e ambições recentes. Só. É o que penso! Contudo, que se mantenha como força viva, o País só tem a ganhar com o pluralismo!
Claro, claro. Como é que nós não pensámos nisto ? O CDS-PP apenas luta pela coligação por altruismo. Pela paixão por este projecto político. Não tem nada que ver com a sua única hipotese de sobrevivência política com um módico de poder. Como tem muitas câmaras e muita penetração nas associações empresariais, sindicais, corporativas e estudantis não precisa de estar no governo para existir. Pode sempre aprovar orçamentos socialistas, como fez no tempo do Guterres (o que apenas provoca sorrisos compreensivos quando hoje atacam o que ontem apoiaram). Há uma regra de poker que é sempre bom nunca esquecer: nunca se faz um bluff contra duas mãos mais poderosas. Lá se vai a hipótese de o repetir.
Caro João Mãos de Tesoura, Realmente houve pessoas que se afastaram do CDS, mas por causa dos seus interesses pessoais. Freitas do Amaral afastou-se, fazendo cair o governo, para tentar ser Presidente da República (embora depois tenha voltado para tentar vingar-se de Cavaco, acabando por se afastar novamente derrotado, para passar a fazer a figurinha que hoje faz com o aplauso da esquerda). Lucas Pires afastou-se porque era muito mais cómodo para ele candidatar-se ao parlamento europeu pelas listas do PSD. Manuel Monteiro afastou-se por qualquer razão que ainda hoje não se percebe bem mas que lhe possibilita ter imensa graça nas declarações que profere. É preciso ver que estas pessoas não faziam o partido, o que é demonstrável pela dimensão actual do seu grupo parlamentar e pelo desempenho das pessoas que ficaram. Daí que a sua visão redutora do CDS não tenha base em que se sustente.
Não costumo responder a anónimos mas cá vai. Aprenda a interpretar textos e depois releia o meu: vai ver que ali não se alude a altruísmos mas a interesses e a jogos de interesses (como julguei ter ficado claro para qualquer pessoa mediana). Ou pensa o Sr. Anónimo que o PS fará igual campanha acaso esta maioria vá a votos coligada ou separadamente? No primeiro caso o PS atacará o CDS com o "fantasma da direita" e no segundo atacará o PSD e gabará o CDS, tentando beneficiar este último: isto é óbvio, não é nenhuma jogada de poker.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.