QUEM MORREU? Qualquer telespectador menos atento pensaria que tinha voltado a morrer qualquer pessoa de um nível da Madre Teresa de Calcutá. Na quinta-feira, pelas 21 horas, alguns dos blocos noticiosos das televisões ainda andavam no mesmo. Já se tinha visto o avião a levantar, depois no ar, por fim a aterrar. Durante a semana, estivemos todos pendentes das notícias do numeroso bando de jornalistas à frente do hospital francês sobre a saúde do homem, a ver se morria ou não, se estava ou não já enterrado (não me movendo qualquer simpatia por ele, não deixo de considerar a atitude dos pretensos jornalistas perfeitamente ignóbil para todos aqueles que o queriam bem). Cá dentro, no nosso paupérrimo país, toda a gente convidada a falar admirava o quase-morto. Até Freitas do Amaral, do alto daquela bizarra coluna vertebral só comparável ao seu percurso político dos últimos 35 anos, falava bem dele. No Público de sexta-feira, não obstante o editorial de JMF, havia um caderno que incluía sobre o Arafat e a OLP um daqueles quadros cronológicos: curiosamente passava de 1970 para 1974, esquecendo o triste e célebre episódio de 1972, em Munique. Contudo, convém que a gente não se esqueça da verdade para a recordar aos nossos filhos: "Arafat personificou o terrorismo, o assassínio deliberado de civis", como escrevia Vasco Rato no Indy. Não branqueemos a história.
Terrorista, sem dúvida, mas também Prémio Nobel da Paz e impulsinador do Processo de Paz, que Sharon "assassinou" quando irrompeu na Mesquita da Cúpula Dourada de Jerusalém e "matou" uma Palestina independente...
É evidente que as pessoas evoluem. Vá dizer isso aos familiares dos que deixaram de evoluir por causa dele. Devem achar imensa graça ao seu "princípio da evolução".
Exactamente para não branquear a minha memória que não derramo nem uma lágrima "virtual" por esta personagem da nossa história. Mas há aqui um dilema, daqueles dilemas que a história tem dificuldade em decidir. Como separar os terroristas dos guerrilheiros, os assassinos dos revolucionários, os monstros dos libertadores. Os critérios da história não são unanimes: veja-se Xanana, veja-se Michael Collins, veja-se William Wallace, veja-se Che Guevara, e por aí fora.
O problema que aqui se coloca é se a independência da Palestina só se tornou irreversível com Arafat. É porque se sim coloca-se aqui um grande problema! Como garantir os direitos dos povos que não têm voz no mundo nem forma de defesa? E com isto não branqueo nada, Arafat morreu, não tenho um unico elogio ao homem. Só digo que nem tudo é linear...
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