REVOLTAS À MÁRIO SOARES: Das pouquíssimas coisas que me impressionam no Dr. Mário Soares destaco a sua extraordinária resistência física - que lhe possibilita andar sempre de um lado para o outro - e a sua excepcional capacidade de dizer disparates inimagináveis por onde passa. São dois atributos que ele possui - qual deles o maior - que não param de me surpreender. É certo que eu bem podia assobiar para o lado e dizer, como a grande maioria agora faz, que o homem está tolo, que não se deve ligar ao que diz, que se deve deixá-lo dizer o que quiser, que já não é para levar a sério, etc., etc., etc.. Eu não tenho a certeza disso. É bem certo que até José António Saraiva abandonou o seu ensosso estilo e o criticou forte e feio, dizendo que ele não percebia nada da realidade americana e que demonstrava não ter respeito pela democracia. Ora se até Saraiva o critica, isso só pode revelar o declínio e a decrépita respeitabilidade que Soares merece (também tu, perguntava o velho leão moribundo...).
Mas eu continuo na minha: não tenho a certeza de que Mário Soares esteja tolo. Parece-me antes que este político - que ainda há uns anos se gabava de ter deixado nas cadeiras do poder os seus apaniguados - está mortalmente ferido de ódio. Ódio por ter visto o filho ser escorraçado porta fora da Câmara de Lisboa, ódio por terem mostrado à mulher a porta da rua, ódio por ter visto o seu Guterres escapulir-se pela porta dos fundos, ódio por Sampaio não lhe ligar nenhuma e lhe dar com a porta na cara, ódio às portas, ódio ao Portas, ódio, ódio, ódio. Ódio que lhe turva provavelmente a vista e seguramente o raciocínio. Ódio que o faz proferir inúmeros disparates por onde quer que passe e abra a boca.
Daí que nesta bela cidade do Porto tenha soltado aquela enormidade de que o país já teria tido uma revolta militar se não fosse o facto de pertencer à União Europeia. Podia ter soltado um soluço ou outra coisa pior mas saiu-lhe isto ao microfone. Se Mário Soares fosse tolo, a gente nem deveria ligar pevide, realmente. Mas como ele ainda não deve ser tolo nenhum e estas coisas saem-lhe por causa dos seus conhecidos rancores, convinha que lhe fizéssemos ver que as tolices que profere são ofensivas: ofensivas para as Forças Armadas, que não têm de sofrer estas acusações imbecis nem têm nada a ver com o azar que Soares possa ter ao respectivo Ministro; ofensivas para o Governo de Portugal e para o regime democrático que o colocou a governar; ofensivas para o povo português, que Soares deve considerar mentecapto; e ofensivas para Portugal, que Soares supõe disciplinado apenas por causa dos seus amigos europeus (vou deixar aqui de lado a tentativa de incitamento à rebelião, para ter que escrever amanhã).
Estas coisas devem ser explicadas a quem profere afirmações idiotas apenas movido pelo ódio e pelo rancor, para ver se ainda há remédio. É claro que se não foi isso que o moveu, então devemos mesmo assobiar para o lado e não lhe ligar nenhuma porque ele deve estar mesmo tolinho de todo. E aos tolos a gente diz que sim e pronto.
Parabéns pelo desassombro e por dizer aquilo que muitos pensam. Acrescento apenas o seguinte: aquele que sempre disse que a tolerância era apanágio da esquerda, a par de outros tantos que também "blogoesferam", vai revelando um radicalismo bacoco e um sectarismo insuportável.
Caro VLX, Sinceramente, não sei de onde vem mais ódio: se de Mário Soares por tudo e todos, como diz, ou de si por Mário Soares e por tudo o que ele diz. Constato, no entanto, duas coisas. Em primeiro lugar, o tom simpático e controlado com que procura esconder a verdadeira reacção gástrico-cutânea que - julgo - o Mário Soares ainda lhe provoca. Em segundo, que essa reacção, no entanto, não desaparece. Porque respeito a sua irritação, não me limito ao mais fácil: dizer-lhe sim e pronto. João Amaral
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