TELEMÓVEIS: O artigo de hoje de Pacheco Pereira no Público fez-me sorrir. Um sorriso amarelo. Não tenho telemóvel e lembro-me sempre de um adágio de Umberto Eco nos primórdios da coisa: "se não fores jornalista, médico ou advogado, ou se não mantiveres uma relação extra-conjugal, não precisas dele". A coisa ultrapassou o adágio de Eco, e hoje toda a gente tem.
Não tenho telemóvel por vários motivos, uns confessáveis, outros não. O estar permanentemente contactável assusta-me: não sou figura pública, nada tenho para dizer a toda a hora ( já me basta o blogue). O toque de um telefone inaugura uma zona de incerteza sombria: quem morreu, a quem fiz eu uma patifaria? Ou então, que me querem, que posso eu fazer? O resguardo da privacidade, o podermos estar sossegados resolve-se fácilmente : desliga-se a coisa; mas uma coisa desligada, incapaz de fazer o serviço para o qual foi pensada, arrasta a culpa. As máquinas foram feitas para funcionar.
Assim, que perdi eu até hoje por não ter telemóvel? Não sei. O velho artifício lógico da malta do Stoa Poikile embala-me os ouvidos: Tudo o que não perdeste ainda tens/ Não perdeste um par de cornos, pois não?/ Então ainda tens um par de cornos..
Quando os achar, telefono.
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