UM SÓ DIA: Ájax está louco e cego pelo cíume; degola animais, assassina os guardiões do saque confundindo-os com os chefes gregos que lhe negam a herança de Aquiles, preferindo entregá-la a Ulisses. Menelau condena-o a ficar insepulto, pois que Ájax, desolado, caiu sobre a sua própria espada.
O desvario de Ájax, o tempo que corre sobre o carácter, tudo isso e mais alguma coisa nos aquece a alma na peça de Sófocles. Mas a profecia de Atena, a malvada inspiradora das duas faces de Ájax, merece ser recordada. Atena explica a Ulisses o perigo de excedermos as nossas possibilidades, de desafiarmos os Deuses; Ulisses concorda dizendo que nada mais somos, nós, os vivos, do que imagens e sombras sem consistência. E Atena conclui, antes da entrada em cena do coro de Salamina:
Um só dia faz baixar ou erguer de novo tudo o que é humano. E a quem é sensato, os deuses amam-no; mas, aos malvados, detestam-nos.
Todos nós somos um bocado Ájax, todos nós pretendemos por vezes desconhecer os nossos limites, nem que seja por um só dia. É o suficiente.
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