2005, O ANO DE SAMPAIO?: Jorge Sampaio está a terminar a sua época como Presidente da República. Os seus dois mandatos ficam irremediavelmente associados aos piores dez anos da democracia portuguesa, que coincidem com o declínio geral do país a todos os níveis. Se considerarmos que qualquer transformação terá que passar pelo bom exercício do poder político, verificamos que Sampaio pactuou com a desgraceira do (des) governo Guterres e, mais recentemente, decidiu "furar" o sistema, com a trapalhada da dissolução da AR. Poderá sempre defender-se com o facto de o PR não "governar" mas, a verdade é que o PR deve ser um defensor do povo e um garante da democracia e das respectivas instituições. Não pode pactuar com a degradação social, económica e política, nem com a "prostituição" das instituições (cfr., a aprovação de orçamentos com base em negócios de queijos...), nem deve usar os seus poderes sem motivo válido que o justifique ou apenas para agradar à sua família política.
Pese embora o seu mau desempenho - na minha opinião - Sampaio aparenta ser uma pessoa sensata, inteligente, equilibrada e sensível à situação que o país atravessa. Deste modo e por forma a retirar-se de consciência tranquila, Sampaio tem agora uma oportunidade de ouro para dar sentido aos seus mandatos. E também para dar sentido à sua decisão de dissolução da AR. Esta decisão deverá fazer parte de uma estratégia mais abrangente que se traduza num claro "Basta!" à classe política dirigente. As reformas de que o país precisa, no actual panorama político, apenas poderão ser efectuadas com um pacto de regime entre os maiores partidos. De outra forma, continuaremos a assistir (e já estamos a assistir...) à política(?) que se esgota na mera demagogia eleitoralista, em que as ideias apenas servem como armas de arremesso eleitoral, em que os políticos não se coibem de atacar hoje aquilo que ainda ontem defendiam. E, para além disso, os cromos são os mesmos, de um lado e do outro. Sampaio tem agora a oportunidade de impor esse pacto. Já que decidiu intervir, que vá até ao fim e que não permita que, independentemente do resultado, tenhamos mais do mesmo nos próximos dez anos. Que intervenha na campanha eleitoral e que imponha esse pacto sobre as reformas que o país precisa e que, isoladamente, tantos votos poderiam custar. Defenda os portugueses que, neste momento, são completamente reféns de um sistema político que, alavancado na imperfeição das regras democráticas, se tornou totalitário.
Uma coisa é certa: 2005 será sempre o ano de Jorge Sampaio. Por motivos que nos levem a recordá-lo com gratidão ou apenas porque terá feito as malas e desaparecido da vida política.
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