DA MENTIRA: Nos tempos que se adivinham vamos ouvir falar muito dela e da sua meia-irmã, a verdade. Nem todas as mentiras são necessárias - só bebi três copos - ou piedosas - tens uns olhos lindos - ou mesmo inconsequentes - quis dar-te os parabéns mas tinhas o telemóvel desligado. Há uma outra mentira, que os psicoterapeutas conhecem bem, a mentira verdadeira. Esta mentira é positiva no sentido em que serve para construir algo numa relação. No Padrinho I, Al Pacino, apertado, faz uma cena, para depois dizer que finalmente autoriza a mulher a fazer-lhe uma única pergunta sobre os "negócios". Diane Keaton pergunta-lhe então se ele matou o cunhado; Pacino, depois da pausa actor's studio, responde: não. Nesse momento Pacino perde o respeito pela mulher.
A mentira positiva tem esse efeito: desacredita não o mentiroso mas o mentido, na medida em que subverte a identidade do outro. Este outro, ao qual mentimos ( e que acredita), passa a ser uma personagem construida por nós. Na política acontece um pouco a mesma coisa. O governado ao qual se pode mentir impunemente passa a constituir uma extensão instrumental do governante, tão importante como um cartaz ou um autocolante de campanha. E lá se vai, suavemente, a velha regra kantiana que manda tratar os homens como fins e não como meios.
Parabéns pela descontrução! É mesmo assim. Aproveito para te desejar um grande Natal na companhia de todos e obrigado por tudo. Para a semana cá nos encontramos.
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