"DRIVING AWAY FROM HOME...":Segundo o DN de ontem, José Sócrates, sempre muito seguro de si, afirmou, perante uma plateia de jovens socialistas lisboetas, que "não quer agradar a todos". A propósito da co-incineração, claro.
Pela parte que me toca, já está no bom caminho. Quando o PS era Governo e Sócrates ministro, pareceu-me que a decisão de instalar a co-incineradora em Souselas era, no plano procedimental, inatacável. O que não me levava, evidentemente, a concordar com ela, por uma razão substancial: atendendo à diversidade das opiniões dos peritos acerca dos potenciais riscos para a saúde pública, prosseguir com a instalação significava a violação de um princípio elementar deste tipo de políticas - o princípio da precaução.
Na altura, a polémica tomou direcções inverosímeis, para não dizer ridículas, de um lado e do outro da barricada. Uns defendiam que as co-incineradoras deviam ser instaladas nos lugares onde se produzem os resíduos tóxicos (tese quem come a carne fique também com os ossos); outros defendiam que as populações afectadas deviam ter uma "visão global" do País e aceitar algum sacrifício em nome do bem geral (tese Portugal é maior que o teu quintal).
Não é de nada disto que se trata. O problema é só este: enquanto não houver juízos conclusivos e independentes sobre a natureza e a dimensão dos riscos associados à co-incineração, ela não pode ter lugar, ainda que seja para pôr fim a uma situação actual globalmente mais perigosa. Por outras palavras: não é politicamente legítimo diminuir riscos que ameaçam a generalidade da população através da sua concentração sobre certos grupos.
Se as coisas são assim, não se pode pedir aos grupos mais afectados que "compreendam" a decisão. Mesmo que seja essa a vontade da maioria, a democracia também se faz das minorias - não da unanimidade. Ora, como, para mim, está fora de causa votar no CDS/PP, em Santana Lopes, no PCP ou no BE, terei de votar em branco. E, pelo rumo que as coisas levam, começar a ouvir outra vez os It's Immaterial.
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