EXPLICAÇÃO DA FALTA DE RUÍDO PRESIDENCIAL: Nesta pobre república, o seu presidente terá resolvido dissolver um parlamento democraticamente eleito onde existia uma maioria que sustentava legitimamente um governo. Dizem vários comentadores que o presidente usou a bomba atómica e podia constitucionalmente fazê-lo. Pronto, está feito, não há nada a dizer.
O que espanta é que um presidente carregue no botão vermelho e não se ache obrigado a vir explicar aos portugueses porque motivo o terá feito - escorreguei e caí em cima do botão, achei piada, não sabia para o que era aquilo, eu era só para pedir um copo, foi a TPP ou a PTT que me pressionou, fartei-me do gajo, não sabia o que haveria de dar ao Mário nos anos, chateei-me com a Zé, qualquer coisa! Qualquer destas explicações nos podia ser dada mas era-nos devida uma única explicação!
Os portugueses têm o direito de pretender conhecer os motivos que levam o seu presidente a julgar que sabe mais sobre o que é melhor para o país do que aquilo que eles próprios sabem, querem e votaram nas urnas. Os portugueses têm o direito de saber se deverão estar sujeitos no futuro ao estado de espírito do seu presidente, ou se este é permeável às sondagens da comunicação social ou aos palpites dos amigos. Têm particularmente o direito de saber se o seu voto serve para alguma coisa ou se pode vir qualquer um, presidente ou não, decidir arbitrariamente coisa em contrário do que foi o voto popular.
Não se discutem os motivos do presidente porque nem se sabem quais são (e agora já nem interessam, valha a verdade), mas convinha tê-los conhecido a tempo.
E não se diga que a CRP exige a consulta prévia dos líderes partidários ou do Conselho de Estado: isso seria se a intenção não tivesse sido divulgada antes (ao que parece, em primeiro lugar, ao líder da oposição). Além do mais, a CRP não justifica que o PR não fale aos portugueses e ande a mandar recadinhos às redacções dos jornais, televisões e rádios a corrigir e a precisar as notícias: que serão os portugueses a menos do que a comunicação social? E porque teremos nós de acreditar "nas fontes" não reveladas de qualquer um que vá falar à televisão ou escrever na folha diária?
A partir do momento em que deixa transparecer que quer dissolver o Parlamento, o PR devia ter esclarecido os portugueses para que estes não andassem aqui a deitar-se a adivinhar os motivos, a divagar sobre as razões ou a especular sobre os ditos dos jornalistas "acreditados em Belém".
Só que as razões do silêncio não têm nada a ver com as justificações formais que têm sido reveladas pelas "fontes" e comunicados vagos oriundos da presidência. O PR não está à espera de ouvir os líderes parlamentares ou o Conselho de Estado para falar aos portugueses porque se assim fosse, quando falasse aos portugueses, eles já nem se lembravam do assunto e mudavam logo de canal.
O silêncio do PR só tem a ver com a indefinição já conhecida deste homem. Ele resolveu dissolver o Parlamento e agora anda a ver o que dizem os mais diversos comentadores para acertar as agulhas das suas próprias motivações. Quando tiver finalmente uma justificação que lhe pareça minimamente plausível, redonda, agradável e inócua, irá falar aos portugueses.
Isso vai acontecer seguramente este sábado à noite, depois da saída do Expresso - apenas porque o Marcelo já não fala na TVI, ao domingo, pois de outra forma teríamos de esperar por segunda-feira...
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.