A MARCA AMARELA: A comunicação conjunta de Santana Lopes e Paulo Portas foi um momento político de grande importância futura. Não tanto pelo conteúdo - afinal, a comunicação foi mais uma manobra mediática de grande (?) impacto para desvelar um segredo de polichinelo -, mas, sobretudo, pelo modo como decorreu.
Do lado esquerdo, falando primeiro, Santana Lopes apareceu com um ar solene, demasiado solene, quase acabrunhado, mais interessado numa definição azeda do passado (a injustiça praticada pelo PR, a oposição dos grupos poderosos, a perseguição, etc.). Santana Lopes envelheceu muito nos últimos meses. Longe está o homem do discurso repentista, da reacção espontânea, do populismo optimista. Manifestamente, o ambiente institucional não é o seu meio.
Do lado direito, falando depois, Paulo Portas apareceu sorridente, quase jovial, mais interessado numa definição esperançosa do futuro (um momento que marca uma nova etapa no processo político português, uma estratégia transparente que dá mais opções ao eleitorado - perdoem, mas esta é de mestre -, um projecto para formar um governo credível depois das eleições). Paulo Portas envelheceu muito nos últimos meses. Longe está o homem de pose de Estado artificial, ansioso por mostrar como é suficientemente maduro para governar. Manifestamente, o ambiente institucional começa a ser o seu meio.
Dirão alguns que esta é uma avaliação impressionista, talvez até forçada, de aparências. Mas há um momento crucial, de apenas um ou dois segundos, que tira todas as dúvidas. No fim da comunicação, uma jornalista dispara uma pergunta qualquer sem importância. Ninguém sabia, ao que parece, que os dois intervenientes iriam assinar, em directo, o anunciado protocolo. Santana Lopes, uma vez mais, fica atarantado, sem saber se deve responder (ainda ensaiou puxar o microfone) ou prosseguir com o acto. Olha para Portas e murmura algo, com ar interrogativo. Portas inclina a cabeça e, sempre sorridente, cicia uma resposta.
A jornalista ficou sem a resposta e o protocolo foi assinado. Foram só dois segundos, mas podem demorar alguns anos.
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