NOIVAS DE SANTO ANTÓNIO: Uma das melhores e mais marcantes características das gentes do Porto é a sua extraordinária capacidade para virem para a rua festejar alegremente, qualquer que seja a hora do dia, qualquer que seja o dia do ano.
É que esta boa gente não se limita aos já habituais festejos anuais de Maio e Junho, antecipando o S. João: esta gente está sempre preparada para festejar, qualquer que seja o momento. Pode acontecer que seja no meio de Agosto, quando o resto do pessoal só pensa em férias, sol e banhos; nessa altura dá o portista um saltinho distraído a Coimbra e pumba: grande noitada de festa, júbilo e glória aos vencedores. Pode ainda acontecer que seja em Dezembro, quando o pagode só pensa em torrar o subsídio em homenagem a uma muito vaga ideia que se tem da época natalícia: quando menos se espera, às vezes até em horário pouco próprio, e zumba! - festejos, buzinadelas, festa e alegria transbordam nas faces das gentes do norte.
Esta característica feliz, única no país, individualiza bem as gentes do Porto.
Não sei como é que é nas outras cidades, não sei com o que é que as pessoas se distrairão. Julgo até que nem na opulenta capital é possível esta maneira de ser, com diversos festejos ao longo do ano, todos os anos, à noite, de tarde ou pela manhã. Deve ser por isso que as pessoas da capital têm um ar triste, quase resignado, um ar que piora a cada época que passa, deteriora-se a cada década em que se cimenta a infelicidade e a dura realidade, habituando-se àquele travo amargo.
Hoje, por exemplo: imagino que o pessoal lisboeta tenha passado o dia a arrastar-se pelos centros comerciais a desfazer o cartão de crédito, ou a ressacar, a atirar pão aos pombos, a pensar na morte da bezerra, na década de sessenta, a morfar com dificuldade (fazendo bola) quatro pastelinhos empastelados de Belém, enfim... ? um dia igual aos outros todos e todos esses outros igualmente maus.
Pois daqui se diz a essa gente: levantem-se! Parem de se lamuriar, alegrem-se, divirtam-se, festejem como nós! Sejam felizes como as gentes do Porto!
E não venham dizer, tentando diminuir esta característica nortenha, que para nós é fácil ser assim só porque o nosso clube ganha tudo por onde passa, em qualquer competição, nos quatro cantos do mundo, todos os anos, em qualquer altura do ano e a qualquer hora do dia. É provável que isso ajude à festa, claro, não podemos negar estas façanhas nem a alegria que nos dão. Mas certamente que aí em baixo se arranjaria também qualquer coisita simpática para festejarem: que tal dividirem ao longo do ano aquilo das noivas de Santo António?...
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