A NOSSA FESTA: Devo confessar que a estratégia foi magnificamente bem montada. Começou-se por afastar o Deus Menino, substituindo-O por uma personagem promotora da Coca-Cola, com nariz de bêbedo, alegadamente aparentada de S. Nicolau. Os presentes, que antes se limitavam às crianças e que apareciam milagrosamente nos seus sapatinhos, são agora atirados pela chaminé pelo velho barbudo dos refrigerantes. Vão parar às peúgas de losangos, amontoadas junto a uma árvore de plástico pejada de brilhantes que substitui o esclarecedor e bonito Presépio. Até a vaquinha e o burro foram suprimidos, inventando-se para o seu lugar umas quantas renas, uma delas bastante esquisita. Em lugar dos anjos, atiram-nos com duendes de caras abjectas que terão por missão auxiliar o velho das renas. E, com tudo isso, fizeram sua a nossa festa.
A NOSSA FESTA II: O pior penetra é aquele que não só vem à nossa festa sem ser convidado como ainda se dá ao luxo de se espojar pelos sofás e de opinar e sugerir alterações às comemorações. Foi o que se passou com o Natal. Hoje toda a gente quer festejar o Natal mas como não o querem celebrar como ele é nem vivê-lo como deve ser, toca de o alterarem e de o despirem de tudo quanto é importante. Falseiam a realidade e dizem disparates como os de que o Natal é a festa da família, que o Natal é a união, que é amor, que é a festa das crianças e dos adultos e outras coisas do género. Chega-se ao cúmulo de se dizer que o Natal é quando o homem quiser (e que é esperança. Quase que me esquecia desta, a de que o Natal é esperança). São baboseiras destas que ouvimos em quaisquer entrevistas de rua todos os anos. Quando vem o Presidente da República oferecer-nos a sua mensagem de Natal e falar-nos do "espírito natalício" só me ocorre aquela velha tirada de Álvaro Cunhal - "Deus nos livre!..." Que sabem um e outro de ambas as coisas? Que sabe Sampaio do espírito natalício? Que sabe Cunhal de Deus? Que interesse pode ter para a comemoração do Natal um velhote de barbas, montado numas renas suadas e acompanhado de uns quantos duendes? Que interessa essa porcaria? Porque não escolheram outra data qualquer para festejarem essa coisada toda? Porque se apoderaram do nosso Natal sem o mínimo de respeito? Porque fizeram sua a nossa festa.
A NOSSA FESTA III: A minha pequena vingança alegre é a de que a maior parte das pessoas que não vive o Natal tal como ele é e se entretém a dissolver o seu subsídio em disparates sem sentido, passa necessidades o resto do ano. As lembranças que dantes se ofereciam apenas às crianças nesta altura têm um significado e representam as ofertas dos Magos ao Deus Menino. Não sei que motivo aqueles que não acreditam nisto encontram para oferecer presentes ou para torrarem os seus rendimentos ou derreterem os seus cartões de crédito mas é giríssimo ver a azáfama desta gente nestes dias. Gastam-se inúmeras energias e economias para tudo se acabar num monte de papel de embrulho rasgado e caixas de cartão no lixo. Porquê? Porque não se utiliza o cacau de forma mais inteligente? O que levará esta gente a desfazer a sua paciência e as suas economias festejando coisas em que não acreditam? Porque fizeram sua a nossa festa (e não sabem vivê-la).
A NOSSA FESTA IV: Devia haver um ano em que todos fizessem como Mr. Krank, do livro de John Grisham. Mr. Krank não vivia o Natal e limitava-se às despesas imbecis comummente aceites pela maioria das pessoas que não sabe viver o Natal, que não vive o que está para lá da imbecilidade gastadora, que não vive aquilo que realmente justifica a comemoração do Natal. Até que um ano Mr. Krank decide não festejar essa época pela despesa que ela implicava.
Pois eu também acho que se ao invés de andarem numa correria louca apenas atrás de uma dissipação atroz do seu dinheirinho as pessoas parassem um ano para pensarem no que é verdadeiramente o Natal, talvez se consciencializassem de que o Natal é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo e o vivessem de forma diferente e mais condigna. E, assim, ao invés de fazerem sua a nossa festa, talvez se juntassem antes à nossa festa e percebessem o que estavam a comemorar.
PS: eu queria desejar a todos os que vivem realmente esta época um santo e feliz Natal. Ao resto do pessoal faço votos de que tenham um feriado porreirinho e prendinhas catitas.
Por isso é que as criancinhas julgam que os 'hamburguer' vêm do supermercado, e o Natal do 'father christmas'. Parabéns pelo seu post! Não querem as referências na constituição ou o que seja, mas ao menos podiam explicar às criancinhas porque que é que hoje se celebra o nascimento que marca o centro da história. Ao menos mencionar o Menino Jesus. Ao menos essa nota para esclarecimento histórico e cultural. Ao menos. Vide "público", hoje, sobre cartas ao pai natal.
Magnífico, lúcido conjunto de posts. A ascensão do relativismo, com todas as suas implicações, combinada com muita ignorância e incapacidade de reflexão, faz com que (nós, os tristes "ocidentais" a caminho de um abismo) rejeitemos parte importante das raizes da nossa civilização, impedindo-nos de reconhecer os seus méritos, a sua superioridade em relação a outros sistemas...
Muito bem! Esta humanidade anda (e é) parva. Só uns poucos é que percebem e têm a coragem de dizer que as festas (boas) são consequência do nascimento de Jesus há dois milénios. Deus nasceu como homem. Difícil: muito! Acreditar: só quem quer. Descrente: só quem quer. Mas nada no mundo resistiu, como a fé cristã, a todos os ataques -- internos (as heresias) e externos -- e mantém a maior família, o maior grupo de passoas transnacional! Politicos tolos temos nós por toda a parte. Viva o Senhor!
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