O EXPLIQUÊS: Uma multa de 1500 euros, mais ou menos o mesmo do que o que é aplicado individualmente a um condutor que tenha cometido uma infracção grave, foi o que a Liga de Futebol Profissional ofereceu ao Vitória de Guimarães na sequência de mais uma cena de cadeiras arremessadas num estádio do Euro-2004, o "tal" que iria elevar o nosso futebol aos patamares do século XXI.
Repete-se até à náusea: "embora condenando e coisa e tal, existem factores que explicam as reacções dos adeptos". Foi o que lemos, e é o que lemos, vemos e ouvimos sempre nestes casos. Os "factores" são sempre múltiplos: as provocações dos adversários, o calor, o álcool, o frio, a seca, a chuva. Quando a polícia dá uns tabefes a uns destes meninos, lá estão as TV's a passar em directo as queixas dos agredidos: "isto é uma vergonha", "regressamos ao tempo do fascismo", etc.
O "expliquês", subproduto de uma pseudo-sociologia igualitária ( e da sua prima, a psicologia-de-cordel), desculpabilizante e supostamente albardada no remorso pelo estilo de vida ocidental, aplica-se a outros tumultos. Hoje ( a bem dizer, de há mais ou menos 60 anos para cá) niguém tem o direito a ser mau, pulha, ou besta, puta ou drogado. Se o somos, é porque a malvada sociedade capitalista não nos proporcionou um desenvolvimento justo e harmonioso, como o dos "ricos".
Claro que as claques de futebol envergonham um pedaço os adeptos do "expliquês", mas não os paralisam: se quem arremessa cadeiras são meninos sem dificuldades materiais, são também meninos com o cérebro chupado pela sociedade do espectáculo, descerebrados e uniformizados pelo consumismo.
O "expliquês" é como a Toyota: veio para ficar.
O pior acaba por ser impunidade (uma multa de 1500 euros não é castigo nenhum para um clube da dimensão do Vitória) com que as coisas se vão arrastando. Este tipo de imagens é recorrente e o clube acaba por ser sucessivamente multado. Normalmente ávidos em importar conceitos do estrangeiro, não ficaria nada mal aproveitar para seguir o modelo UEFA: 100 mil euros de multa para a Federação Espanhola por causa de cânticos racistas no Santiago Bernabéu e três jogos sem público no Olímpico de Roma por causa de um isqueiro lançado ao árbitro. Podia ser que as coisas melhorassem. Pouco, que sinceramente as esperanças começam a ser cada vez menores.
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