O ORÁCULO: Menos conhecido do grande público é o oráculo de Apolo a Laio, que transforma o parricídio em legítima defesa: "dizia que a sorte lhe reservava morrer às mãos de um filho que dele e de mim nascesse", são as palavras de Jocasta. Assim Édipo mata antes de ser morto, porque Laio quer matá-lo, também para se defender, como lhe anunciava o oráculo. Tudo isto é em termos realísticos, absurdo, porque a criança ( Édipo) antes de nascer já é parricida.
Conhecem-se as interpretações clássicas sobre as imperfeições dos homens e a eficiência dos Deuses, mas outros aspectos são interessantes no constante renovar do mito. Por exemplo, na mitologia chinesa, o complexo de Édipo assume contornos completamente diferentes: de cada vez que o filho tenta matar o pai e falha, torna-se cada vez mais obediente, de acordo com uma antiga lenda na qual o pai, Shun, é o fundador da nação Chinesa. Em termos literários apenas O sonho do quarto vermelho, popularizado por Lu Hsun envolve uma componente edipiana, entre o pai, Jia Zheng e o filho Bao-yu. Mas na tradição confunciana chinesa, como diz Ming Dong Gu ( The Fragmentation of the Oedipus Complex in Chinese Literature, Proceedings of the 8th International Conference on Literature and Psychoanalisys, London July 1991) o filho obedece sempre.
Por isso a relação de poder é também um aspecto interessante do mito, seja na versão de Homero seja na de Sófocles. Matar porque se vai morrer, desejar antes de ser desejado, são significados que transportam a relação de poder para o plano mental, para o plano do pensamento. Este território é ainda hoje, sobretudo hoje, o mais oracular...
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