OS OUTROS: A nossa história de vida só nos pertence na medida da nossa ignorância. Por isso o "eu acho", o "eu penso", o "eu sinto", nunca foram tão abundantes. Uma vida a meio ensina-nos no entanto que só somos o que fomos com os outros, e o que os outros foram conosco. A angústia que se desprende desta constatação é talvez cruel para quem julga fazer o seu destino, mas é uma angústia esclarecedora. Permite-nos, entre outras coisas, cortar as abas largas do chapéu, deixar que a sombra se faça a si mesmo.
O sentimento de orfadade e de impotência é inevitável: então não temos uma palavra a dizer? Claro que sim: na reconstrução paciente das relações com os que amamos e odiamos, na transformação da indiferença em curiosidade. Tudo é preferível à fantasia que nos adorna a ignorância: a de que nascemos para sermos amados, façamos nós o que fizermos.
Talvez por isso a velhice seja simultâneamente libertadora e predadora. Velhos, sabemos que já pouco há a jogar, refastelamo-nos de copo na mão a observar e a aceitar as consequências. Há excepções, claro: os que nunca desistem de permanecer ignorantes.
Conhecem algum?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.