RESPONSABILIDADE E POLÍTICA (II - OS MEDIA E O PR): Como corolário do panorama de desresponsabilização generalizada, verificamos que o verdadeiro poder, hoje em dia, está no controlo dos media. Um facto apenas será um facto político se for, igualmente, um facto minimamente mediático, i.e., com algum eco nos media. Por outro lado, um facto que em si mesmo não seria um facto político poderá vir a sê-lo, caso tenha um adequado "tratamento" mediático. Em suma, quem controla o "comércio" dos factos políticos - e, indirectamente, as inclinações políticas dos eleitores - são os jornalistas e, em última análise, quem controla os meios. Sem que haja uma legitimidade adequada ao poder que, de facto, detêm.
Não existe qualquer espécie de sufrágio ou responsabilização da actividade jornalística em Portugal, nem sequer a mínima exigível, que seria a aplicação... da lei - uma vez que a justiça não funciona. Também não existe a tradição dos jornalistas ou meios de comunicação se declararem antecipadamente comprometidos com uma qualquer linha de pensamento político, por forma a que os destinatários possam fazer uma avaliação correcta daquilo que lêem.
Deste modo, chegámos a um ponto em que é perfeitamente possível manipular a opinião pública através dos media. E a prova disso, é a recente decisão de dissolução do Parlamento por parte do PR - ainda que a manipulação tenha uma origem involuntária.
Apoiando-se no descontentamento generalizado da população - que já vem de há dez anos e o qual foi substancialmente alimentado pela quase totalidade dos media desde que este Governo entrou em funções - o PR tira o tapete ao Governo sem apresentar um fundamento objectivo e grave que justifique a gravidade da medida. Para além do facto em si, pior ainda - num inacreditável unanimismo - é a forma estranhamente consensual como os media aplaudem a dita medida, a qual não é sequer questionada. O próprio Expresso - suposta referência - é unânime em louvar - de uma ponta à outra! - sem questionar! E como resultado desta "campanha", a população é mediática e convenientemente convencida da bondade de tal actuação, a qual não é sequer questionada naquilo que traduz de subversão do sistema político vigente.
Partilho da opinião - que adivinho como sendo a do PR - que Santana é um mau Primeiro-Ministro e que não tem perfil para o cargo. Mas, não posso acreditar que seja possível fazer cair um Governo com base em conveniências políticas de ocasião, humores do PR e/ou campanhas mediáticas. Se assim for, devemos então assumi-las como novas componentes decisórias do nosso sistema político.
Não sendo esse o caso, não me lembro de ter votado em nenhuma televisão, rádio ou jornal ou mesmo ter encontrado fundamentos na nossa Constituição para a existência de um sistema presidencialista.
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