RESPONSABILIDADE E POLÍTICA (IV CONCLUÍNDO): Este episódio da dissolução do Parlamento é mais uma prova da falência do sistema político vigente. No momento em que escrevo, Sampaio justificou a medida da dissolução do Parlamento com o facto de que, caso tivesse demitido o Governo - que era o que realmente queria fazer - Santana poderia ser novamente indigitado pela maioria. Assim, foi necessário subverter o sistema. Como não conseguiu despejar o inquilino do seu apartamento resolveu pegar fogo ao condomínio.
Penso que é urgente a reforma do sistema político vigente, mas preferia que não acontecesse através de um "golpe". A dita reforma até poderá passar pela introdução de um sistema presidencialista, se os portugueses assim o entenderem. E Sampaio poderá então pôr e dispôr dos governos, o que não deveria acontecer à luz do actual sistema.
É igualmente urgente rever o papel da imprensa na nossa sociedade. Não podemos afirmar que vivemos em democracia se o verdadeiro poder não estiver no voto.
Mas o verdadeiro poder, meu caro, está e estará no voto. É que Sampaio também foi eleito... e eleito directamente, ao invés do governo. Por alguma coisa vivemos num sistema semi presidencial... e ainda bem. Um abraço.
Mas, precisemente, no «actual sistema», o Presidente pode «pôr e dispor do governo», e é assim que está certo. O semi-presidencialismo não pode coexistir com a eleição directa do Chefe do Estado: foi uma invenção ad hominem de Mário Soares e outros para combater Ramalho Eanes. É altura de todos acordarem e compreenderem: a) que o Presidente tem uma legitimidade própria; b) que pode e deve usá-la quando for necessário; c) que, evidentemente, o presidente de todos os portugueses não deixa de ser eleito com uma plataforma política e que, como tal, deve lealdade aos que nele votaram. Quanto ao resto, é evidente que tudo o que se passou nos últimos 4 meses é uma perfeita anormalidade. A dissolução do parlamento a meio do seu mandato quando existe uma clara maioria só é aceitável e compreensível porque o primeiro-ministro se chama Santana Lopes e é quem é - embora muitas pessoas ainda não tenham percebido bem. Ele aviltou o cargo a um ponto que excede tudo o que se poderia imaginar - e tudo o que os jornais até hoje tornaram público, mas que o Presidente, como todas as pessoas razoavelmente informadas, não pode deixar de saber. O que está em causa é, de facto, a pessoa. Em tudo isto há muito de invulgar e de lamentável, mas, entendamo-nos, nenhum golpe.
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