CIMENTO & BOLA: O novo estádio de Leiria regista uma assistência média de 6000 pessoas e vai ser utilizado para casamentos e baptizados, o de Coimbra regista uma audiência média sensivelmente igual ( pelas minhas contas, que tenho lá estado em todos os jogos). Aveiro vai pelo mesmo caminho, Guimarães pouco melhor, o que não é necessariamente bom dado o hábito que têm por lá de atirar cadeiras para dentro do relvado.
Mas Coimbra é um caso especial pois que é o da cidade onde vivo. Na altura da inauguração do estádio foi dito pomposamente - e contra os estúpidos como eu - que o estádio pagava-se a si próprio. A Câmara ficou endividada para os próximos 30 anos mas o estádio iria ser aproveitado, e o exemplo para patêgo ver foi o concerto inaugural dos Stones. Desde aí mais nada, repito nada - concerto rock, jazz, folk, dread-metal, pauliteiros - foi feito no estádio. A sua admnistração foi entregue a uma empresa privada e hoje o investimento de 15 (?) milhões de contos, grande parte suportado pela Câmara Municipal, serve para os habituais sócios da Briosa e para os estudantes assistirem, estes últimos quase de borla, aos pardacentos jogos da Super-Liga.
Tudo isto se fez sem oposição ( houve uns esboços por parte do PCP) e em absoluto consenso urbano-político das "forças vivas da cidade". Enquanto isso, a Alta de Coimbra, património do mundo, recebeu finalmente a primeira e mísera fatia - 3 milhões de euros - destinada a dignificá-la, Coimbra continua sem uma sala decente de espectáculos e congressos, o Teatro Académico Gil Vicente continua nas lonas ( ontem demitiu-se o seu director), e grande parte dos arredores da cidade permanecem sem saneamento básico. Na altura recordo-me das discussões que tive com o meu caro Neptuno, que não compreendia as minhas caturras objecções, eu "que até gostava da bola". Hoje é ele quem escreve ardentemente aqui no Mar Salgado contra a degradação da vida pública, da cultura e da educação, contra a mediocridade e o facilitismo em Portugal. Essas coisas também passaram por Coimbra.
_________________________________________________________________ Para se ser fã da bola não é necessário ser fã de um estádio. Trocava de bom grado os estádios novos por autoestradas, ou por qualquer coisa que me (nos) fosse útil.
No caso de Coimbra, vou ao Estádio Cidade de Coimbra como já ia ao Velho Calhabé ou ao Sérgio Conceição: para sofrer com a Académica. Se fosse para ver futebol, ficava em casa à lareira a ver o futebol inglês ou espanhol, como faz o meu pai.
Portanto, caro FNV, vê-se futebol que não vale um tostão em estádio de 15 milhões. é um paradoxo, mas infelizmente esse paradoxo encontra-se nesta (e nas outras) cidade.
(já agora, um aparte: achei delicioso a resposta de RAP à questão do Clítoris vs. Clitóris. O rapaz esteve muito bem...) Rui Gonçalves ________________________________________________________________
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