NOVOS HERÉTICOS E SEUS AUTOS-DE-FÉ*: Quando li este post do Miguel, não fazia ideia de quem era Dulce Ferreira. Uma busca rápida no Google mostrou-me o estado da questão em todo o seu esplendor: um coro de protestos e insultos, alguns encabeçados pela foto da senhora, entoados por bloggers escandalizados e enraivecidos. E o que fez a dita Dulce para merecer as chamas? Disse que não tinha cancelado as suas férias na Tailândia, porque os pais, que se encontravam no país, lhe tinham dito que, no local onde estavam, não havia perigo. Mais disse que tinha pena de não poder disfrutar das condições normais, mas que, por outro lado, seria bom ver as coisas "ao natural", sem turistas.
Como bem lembra o Cabalas, na altura em que a rapariga falou à jornalista, ninguém tinha a noção da dimensão da catástrofe. Além disso, parece evidente que, ao falar da "ausência de turistas", ela não se referia às vítimas, mas sim aos que, muito legitimamente, decidiram cancelar as suas férias. Por último: de certeza que as férias da Dulce deixam muito mais dinheiro na Tailândia do que as contribuições dos inquisidores todas somadas.
Pode discutir-se a (in)conveniência das afirmações, ou do seu modo - embora o tema não se afigure muito interessante. Mas a sanha da turba e os epítetos despropositados com que brindaram a infeliz não são só, Miguel, de uma "pequenez" confrangedora: são também o sintoma de uma sociedade que precisa desesperadamente de heréticos. E isto tem um nome: atavismo.
*Post em forma de prémio para a Origem do Amor. Gradisca!
Incrivel a afirmação do Koelhone no comment acima : " poderia nao ser essa a.....mas a sensação que passou...." Acho que isso diz tudo a respeito da manipulação e construção de "verdades" feita pelos abutres da media; em tempos de histeria coletiva toda e qualquer manifestação que seja diferente do que foi construido como "comportamento correto e esperado" e´"lido" como aberração. So espero que a sra em questão recorra a justiça e receba uma bela idenização e possa vir gozar de novas férias onde bem lhe apetecer. Claire.
Não conseguimos distiguir as coisas que estão em planos diferentes? Uma é de não ser condenável não cancelar as férias em regiões que têm condições para acolher turistas, porque seria castigar o país ainda mais. Outra é ter como resposta para a questão se está triste com a situação, lembrar-se das inconvenientes - eventual falta de conforto - e nomeadamente as mais-valias - catástrofe "ao natural" - pessoais. Resta a suspeita que a entrevista foi editada para que a Dulce Ferreira fazer essa triste figura. O PC sabe se assim foi?
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