A ONORATA SOCIETÁ: Desde que escrevo no Mar Salgado que tenho defendido a tese da futebolização da vida política portuguesa. Não é nada de especialmente inovador, outros noutras paragens também o têm feito. Mas o que eu quero dizer com o termo, cabe-me a mim. Não se trata de "falta de nível", para isso não é preciso futebolizar. Não se trata da superficialidade dos projectos, do império do efémero, para isso também não é necessário ir buscar o exemplo dos cromos da bola.
A futebolização da vida política pode ser melhor entendida por quem vê os Sopranos ou por quem viu o Tudo Bons Rapazes, do Scorcese. Do que se trata é em primeiro lugar é de uma vaga noção de inimputabilidade alicerçada na interpretação dos "desejos do povo". Mas não só, porque não chega. No futebol, as "massas" são despolitizadas, porque o que interessa é vencer. Não importa como, mas apenas vencer. E depois, o elemento identitário: todos são amigos enquanto não são inimigos. Na vida política das ideologias, tal nem sempre é possível; já no futebol, "o que hoje é verdade amanhã é mentira". No centro, o poder, finalmente despido de qualquer resquício de significado positivo. Na periferia, as amizades juradas, os afectos desmedidos, as traições, as birras, a histeria: em suma o teatro persistente, sem outro público que não os próprios actores.
O "Caso Pôncio" ilustra abertamente a minha tese. Mas a putativa/eterna candidatura de Pinto de Costa a qualquer coisa, por qualquer partido ou talvez por nenhum, ou a patética declaração de Vilarinho há três anos, também. A facção agrega toda a gente com base em amizades, o povo é sereno, e a prazo, como no futebol com os árbitros, a justiça será a grande inimiga: aquela que os impede de dar ao povo o que ele merece.
Mafia vem simplesmente de Mia Fide, a Minha Fé, o meu credo. O credo nos nossos, o credo nos que nos alimentam, mas também nos que nos ficam gratos, outra designação para devedores. O resto é paisagem. Ondulante.
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