OS DONOS DA BOLA: Ao longo dos anos habituámo-nos a olhar para o mundo do futebol com suspeição. Existem regras e existem instituições que as devem proteger e aplicar mas, no entanto, sempre pairou o fantasma da corrupção e do tráfico de influências. A sensação de que as regras não são iguais para todos e que outros factores que são (ou deveriam ser) exteriores ao jogo acabam por ter um grande peso na definição dos resultados, já que nem todos têm acesso a tais armas.
Na passada semana, assisti ao Expresso da Meia-Noite na SIC-Notícias, em que o entrevistado foi Santana Lopes. Já perto do final do programa, o Director do Expresso J.A. Saraiva perguntou a Santana qualquer coisa como se não seria uma estratégia suicida - atendendo a situações idênticas ocorridas no passado - o seu presente estado de confrontação ou mesmo guerra com a comunicação social. Esta pergunta que, de alguma forma, documenta o tratamento dispensado a Santana desde que tomou posse como PM, entre outros aspectos infere duas questões muito interessantes:
Por um lado, assume que há uma guerra entre a comunicação social - onde se inclui o jornal de que é director - e o PM cessante e agora candidato Santana Lopes. Ora, será possível a um jornal - ou a qualquer outro meio - que está em guerra com um candidato eleitoral manter o seu distanciamento e isenção de análise? Não seria mais honesto assumir esse confronto num editorial - em vez de alusões subtis e camufladas em perguntas aparentemente inocentes - e deixar que os (e)leitores façam o seu juízo dispondo de todas as coordenadas?
Por outro lado, a pergunta de J.A. Saraiva infere (e assume) todo o poder dos media. No fundo, Saraiva questionou Santana com alguma perplexidade sobre o atrevimento deste em afrontar os poderosos media, sabendo que estes fariam - como têm feito - a sua vida num inferno.
A combinação de tudo isto resulta num verdadeiro poder não sufragado e, sobretudo, não legitimado dos media - ou de quem manda neles - para vender sabonetes, presidentes ou destruir candidatos. E a uma imprensa que age de forma alinhada sem o assumir frontalmente, acobertando-se num falso manto de independência e isenção, a isso eu chamo manipulação.
E quando assim é, as regras não são iguais para todos.
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