SWINGING: A Pública tem uma secção de sexologia que me diverte imenso. Esta semana, Ana Pinto da Costa faz a crítica da monogamia e a apologia do swinging ( troca de casais), citando um estudo de um médico - José Cádima - que conclui "que os swingers têm casamentos mais duradouros, são mais felizes e sentem menos ciúmes que os casais sexualmente fiéis".
Como nestas matérias gosto mais de Tertuliano do que de sexólogos, não acredito em casais sexualmente fiéis: se desejas no olhar, já traiste no coração. O resto é mecânica do controlo dos impulsos e conversa para boi dormir. Mas deliciosa é a conclusão ( segundo a colunista) do tal estudo: serei mais feliz, menos ciumento e estarei casado mais tempo se a minha mulher regularmente se deitar com terceiros. O ciúme ( vg Otelo, O Mouro de Veneza) é essencialmente suspeita, logo, desaparecendo esta, desaparece o combustível do sofredor; assim, a lógica do artigo citado é que como na cama nunca estão só duas pessoas ( a colunista refere-se à máxima freudiana), mais vale relaxar a relação e dar alma ao corpinho.
A estupidez é muito mais frequente do que se imagina. Não passa pela cabeça desta gente que não estamos cá para sermos felizes, nem que tal é virtualmente impossível numa longa relação. Numa longa relação há de tudo, não é o mundo da Barbie ( o de Ana Pinto da Costa): ódio, traição, amor, desejo, morte, partos ( nem sempre), dinheiro, memórias. Mas também não passa pela cabeça desta gente que uma das coisas que pode manter um casal é precisamente a possibilidade do outro ser desejado fora da relação. E isto é bom e mau, mas não tem nada a ver com felicidade. De um ponto de vista vagamente masculino, eu diria que uma mulher é tanto mais sexualmente atraente para o marido quanto ele calcule que ela pode ser ( e é) desejada por outros. O inverso é também verdadeiro, e tanto é que não existe nenhuma relação entre a duração de um relacionamento e desaparecimento da atracção sexual: a chama tanto pode extinguir-se ao fim de um ano como ao fim de 20. Ou seja, a tal longa relação de que fala a colunista nem sempre se reduz a um tenebroso território de imposição masculina, mas também não tem nada a ver com simples satisfação sexual. São mundos diferentes, tendo ambos o direito a coexistir, naturalmente.
Foi Blanchot que definiu magistralmente o desejo: é a distância tornada sensível. Blanchot não queria saber de macacos.
O meu ponto de vista, e talvez seja muito conservador nesta matéria, é que o swinging, e todos os benefícios que a ele associam, é apenas mais uma forma de a humanidade actual viver uma vida facilitada, cada vez mais facilitada, cada vez com menos obstáculos e adversidades. O swinging é o transformar do humano nas caras e vidas dos que ocupam os espaços publicitários.
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