TOYOTA: O inenarrável Dr.Manuel Pinto Coelho voltou à carga, desta vez com cúmplices: segundo o Público de hoje, criou a "Associação Portugal Livre de Drogas", com o "objectivo de contrariar a filosofia de que as drogas vieram para ficar e de que não existe outra solução senão adaptarmo-nos a elas através das estratégias de redução dos danos que elam provocam".
Nunca sei nestes discursos qual o intervalo temporal do "vieram para ficar". Se se refere aos factos, ou seja por exemplo à cerâmica com desenhos do cultivo e consumo da cannabis da cultura neolítica Yang-shao ( 4200-3200 a.C.) e ás pedras em forma de Psilocybe, os "cogumelos alucinogénios", encontradas na Guatemala e datadas de 100-200 a.C.; ou ás Guerras do Ópio no século XIX, e à Odisseia e ao ópio que os amigos de Ulisses bebiam ( a tesiarca dos Romanos), ou ainda aos vícios da Inglaterra vitoriana e ao Pharmacy Act de 1868; Ou a outra coisa qualquer. Por exemplo à extraordinária ideia de que foram os loucos anos 60 que "trouxeram " as drogas que Pinto Coelho se recusa a acreditar "que vieram para ficar" como a Toyota.
Estas coisas seriam cómicas se não resultassem depois num retrocesso trágico ( na redução de danos, no controlo do consumo, no combate à infecção por HIV, etc). A Suiça, país atrasado e como se sabe infestado de relativistas, já em 1999 apresentava os primeiros estudos conclusivos sobre programas de distribuição controlada de heroína: sempre que apresento estes estudos nas aulas, a cara de espanto dos meus alunos, muitos de mestrado e alguns já a trabalhar na área, é divertidíssima de observar.
Claro que se Pinto Coelho e a sua Associação conseguissem apagar séculos de cultura humana, conseguissem inventar novos neuroreceptores e neurotransmissores (despedissem com justa causa, por exemplo, a dopamina), e de caminho reinventassem a natureza humana, caminharíamos, estou certo, para um Portugal livre de drogas. Seríamos então um case-study internacional.
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