INQUISIÇÃO: O interessante texto de Stephen Kanitz, na Veja desta semana, questiona se o comportamento dos brasileiros não foi exclusivamente determinado pelo índio, pelo negro e pelo europeu mas sim, em boa parte, pelos 300 anos de Inquisição. O autor aponta alguns comportamentos eventualmente tributários dessa "herança", como por exemplo: a dificuldade dos intelectuais em assumirem posições pessoais claras sobre os assuntos que abordam e o facto de se escudarem em dezenas de citações, por forma a poderem esquivar-se, se necessário, à responsabilidade pela autoria das respectivas ideias - o perigo de assumir ideias próprias; o facto da constituição de 1988 ser simultaneamente de esquerda, de direita e liberal - o perigo de contrariar alguém; a costumeira frase introdutória "desculpe qualquer coisa..." - o perigo de dizer algo errado e ser denunciado; entre outros.
Independentemente da validade desta teoria, podemos facilmente transportar este texto para a realidade portuguesa. No fundo, este comportamento defensivo e retraído estaria ainda hoje a marcar os comportamentos no Brasil, prejudicando o seu desenvolvimento.
O aspecto mais interessante talvez seja o do deslize: o deslize seria o maior perigo a enfrentar por qualquer português durante a Inquisição, pois esta estaria sempre atenta a qualquer deslize de comportamento que permitisse tornar suspeito - e, muito provável e sumariamente culpado - o seu autor. Kanitz acaba por citar Fernando Henrique Cardoso, que no seu livro "O Presidente Segundo o Sociólogo" escreve que, se um presidente fizer um discurso em que anuncia o fim da pobreza no Brasil e se durante esse discurso caírem os seus óculos, a manchete e a fotografia da primeira página dos jornais será sobre a queda dos óculos e não sobre o fim da pobreza.
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