MORTE & MEMÓRIA: Os dedos sujos de tinta, os cabelos grisalhos antes do tempo, estoirado: " A Ana não me sai da cabeça". A Ana tinha doze anos quando morreu, tumor cerebral, um ano de agonia. O homem tem hoje duas filhas, a mais nova "foi concebida", diz-me ele numa língua estranha, quando a Ana estava no hospital. O tipo atirou-se ao trabalho, construiu a sua própria empresa, não tem horas nem fins-de-semana. Mas a Ana não lhe sai da cabeça, e agora, quatro anos depois, o homem está de rastos.
Mandei-o voltar a pescar, ordenei-lhe que voltasse mais cedo para casa. Se a nossa memória contrata um advogado, nada a fazer: os gajos são bons. Se o tempo nos atraiçoa, fazendo-nos crer que quanto mais dura menos arde, é dar-lhe pontapés como ao cão de gesso da sala de entrada. Só vencemos aceitando a derrota, gozando ao segundo a incerteza do resultado.
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