OS DONOS DA MORALIDADE II: A insinuada homossexualidade de Sócrates suscita a velha questão dos limites do escrutínio da vida privada de um candidato político. Deverá ser apenas avaliado pelas suas propostas ou igualmente pelo seu comportamento privado e pelo que esse comportamento pode indicar quanto a determinadas políticas ou desempenhos? No caso concreto de Santana Lopes e, aparentemente, a sua vida pública é um espelho da sua devassada (no sentido da ser totalmente vasculhada pela imprensa) vida privada. No caso concreto da homossexualidade, é previsível que tal facto pode influir, por exemplo, nas opiniões sobre casamentos de homossexuais ou sobre a adopção de crianças por esses mesmos casais. No entanto, aceita-se que a opinião prevalecente no respectivo partido se sobreponha à opinião de tal candidato e que um voto nesse candidato não significará necessariamente que este acabará por impôr o seu ponto de vista ao partido que dirige, desse modo tornando irrelevante o conhecimento da sua vida privada pela população. Ou seja, não seria legítimo crucificar um candidato político pela sua intimidade, ignorando aquilo que realmente interessa, os projectos e ideias que apresenta ao eleitorado.
Se, porventura, tem validade o acima enunciado, penso nunca será defensável a forma como a esquerda recusou o comissário Buttiglione (por quem não me move qualquer espécie de simpatia). Que era membro de uma equipa, que subscreveu um projecto e que não teve problemas em assumir os seus pontos de vista íntimos, mesmo aqueles que não coincidiam com o projecto que integrava. Mas foi boicotado devido a essa esfera privada. Ainda que devidamente assumida.
Mais uma vez uma "posta" do Neptuno mete muita água, de forma que é inusitada no Mar Salgado: - a vida de Santana Lopes não é pública por devassada pela imprensa, mas por ele a ter usado repetidamente, em várias aparições, com filhos, esposas, namoradas, etc., com fitinha e sem fitinha, na imprensa cor de rosa de que foi assíduo (nada disso aconteceu com Sócrates, que sempre optou por manter o recato sobre a família); - Rocco Butiglione não foi "boicotado" (e bem) por ter quaisquer "pontos de vista íntimos", mas antes por, estando indigitado como Comissário para a Igualdade, ter insensatamente decidido fazer de uma questão de convicção pessoal uma manifesta posição política, ao apresentá-la, da forma como fez, na audição parlamentar; - A questão da superioridade das políticas propostas pelos partidos nada tem a ver com o aproveitamento de boatos soezes (e, como boatos, falsos) num comício para "1000 mulheres" (já de si um acto de extremo mau gosto, para não dizer machista..., mas que cola bem na imagem de Don Juan de pacotilha do líder e seus sequazes); - Não há que confundir a mensagem torpemente insinuadora, que deve ser julgada pelos portugueses com o banimento dos seus "aproveitadores" da vida política, com a sua (eventual, e, aliás, justificada) amplificação pela imprensa; - É "impor", e não "impôr".
O Deus dos Mares tomou as rédeas na boca... e o resultado é este.
Que confusão, Neptuno! Essa esfera do Buttiglione não era "privada". Os deputados decidiram chumbar o Buttiglione, por estarem convencidos de que as suas convicções religiosas iriam condicionar a sua acção politica. E obviamente, o Buttiglione teria todo o direito, e mesmo o dever, de agir de acordo com a sua consciência católica. Pura a simplesmente, a maioria dos deputados não concordam com as ideias do Butiglione e exerceram um direito democrático de as recusar. Todos fazemos isso em qualquer eleição. As orientações sexuais do Socrates, pelo contrário, só a ele dizem respeito. O que se passa dentro das quatro paredes de casa dele não me interessa, se não constituir crime. É tão simples quanto isto. António
É óbvio que Santana se portou mal, mas o que ressalta dos meus posts (para quem não quer perceber ou não consegue) é que não se trata de um facto inédito e que a indignação daí resultante não é (ou não devia ser) apropriável por uma esquerda com telhados de vidro. E levada ao colo por certa imprensa. Quanto a Buttiglione, é claro que a sua situação não é idêntica à de Sócrates. Mas, o cerne da questão reside em saber se, embora comprometido com determinado projecto político, um candidato político pode ser confrontado com a sua esfera privada - e penalizado por isso - sempre que outros considerem que esta não coincide com aquele projecto.
Neptuno, respondendo à sua questão: é óbvio que não. É que se alguém considera que a esfera privada de um candidato pode colidir com o seu projecto político, considera mal. A esfera privada de um candidato é irrelevante para a análise do seu projecto político. O que eu continuo a perguntar é o que tudo isto tem a ver com o que se passou com o Buttiglione. Faltar-lhe-á definir, talvez, o que entende por ?esfera privada?. António
Oh Deus dos Mares !!! Vê-se bem que te está a faltar um pouco de terra firme:
- Descontemos a referência à má vontade ou incapacidade dos teus dedicados leitores de perceberem o que escreveste, pois o problema é justamente terem entendido bem demais o que "ressalta" das tuas "postas". - E descontemos também a referência a certas críticas serem "levadas ao colo" por certa imprensa, que (para além de revelar a afinidade com certos sectores cuja atracção fatal pela palavra "colo" tem sido patente) só serve para distrair da substância dos problemas. - Perguntemos, pois, apenas: se reconheces que "Santana se portou mal", se a situação de Buttiglione "não é idêntica à de Sócrates", e se (ao contrário do que poderia acontecer com o líder do PP) nem está em causa em Sócrates qualquer coincidência entre o projecto do "candidato político" e a sua esfera privada (mesmo que os boatos fossem verdadeiros, que, como boatos, não são, para além de terem sido desmentidos), o que é que este "cerne da questão" tem a ver com o canditado do Partido Socialista, para além do mero (e patente) prolongamento da insinuação de um boato torpe e baixo ?
Assinado: Um militante do partido de Sá Carneiro, Cavaco Silva, e muitos outros milhões, que não pode revelar a identidade mas assegura que (talvez por ingenuidade sobre alguns dirigentes) nunca pensou que o seu PPD/PSD, mesmo com PSL, poderia aceitar, ou promover objectivamente, o boato de que o adversário é pan..., aliás, "homossexual".
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