PERSONAE, NON VERBA: Ainda não tive tempo de ler, depois das eleições, muitos dos blogues que costumo visitar. Mas o que vi por aí, sobretudo nos de cariz mais marcadamente político, são análises que não me convencem muito. E como aqui cada um tem direito às suas asneiras, aqui vai a minha: 1) Com a provável excepção do caso do BE, os resultados destas eleições não foram determinados por mensagens políticas, programas eleitorais ou conteúdos ideológicos. A faixa oscilante, que - saudavelmente - não casa com um partido político para a vida, não achou que os "objectivos" do PS fossem mais credíveis do que as "propostas" do PSD; nem achou que o programa do PCP tivesse evoluído desde 2002; nem achou que o PP tivesse menos condições para governar do que tinha nas últimas eleições. 2) Os eleitores da tal faixa oscilante, a que se juntaram alguns anteriores abstencionistas, votaram em, ou, sobretudo, contra pessoas. No PCP, porque Jerónimo de Sousa é mais simpático do que Carvalhas, ou porque lhes seria insuportável votar em Sócrates. No PS, porque votaram contra Santana Lopes e, na menor proporção que lhe cabe, Paulo Portas. Travestir esta evidência, à esquerda e à direita, em vitória / derrota de um programa, de uma mensagem ou de uma ideologia, sobretudo depois da campanha eleitoral que se fez, é viver numa outra realidade. 3) Claro que esta leitura é inconveniente para o sector da direita derrotada: o PP em peso e o PSD fiel a Santana. Ser-lhes-ia mais leve uma derrota ideológica - do que uma derrota pessoal. Mas também é incómoda para o PS vitorioso. É que boa parte dos seus eleitores não votaram no Partido, nem sequer no líder: votaram para afastar a dupla Santana/Portas. E, para isso, era-lhes mais ou menos indiferente que o candidato fosse Sócrates, Vitorino, o Rato Mickey ou António José Seguro. 4) Enfim, esta leitura não vale para os extremos. Haverá certamente outras razões a explicar a grande subida do BE e, sobretudo, a explicar a descida de 17% do PP em relação aos votos de 2002, que continua a ser, para mim, o maior enigma destas eleições. Não vislumbro razões para que os votantes do PP em 2002 tenham agora mudado o seu sentido de voto, especialmente se levarmos em conta a união do partido em torno do seu líder. Supus que, além desses eleitores, o PP cativasse mais uns 1,5% a 2% de eleitores do PSD. Se esta transferência existiu, a descida torna-se ainda mais intrigante. 5) É impossível prever se esta personalização do voto - ainda que pela negativa - se manterá em futuras eleições. Mas uma coisa parece certa: tende a aumentar o número de eleitores voláteis ao centro, que não têm um compromisso cego com uma bandeira. Isso é bom, porque pode aumentar a exigência em relação aos dois partidos que, disputando o centro, assumem o poder rotativamente. E porque, na comprovada ineptidão de ambos, abre espaço ao nascimento de um novo partido político ao centro.
sou de direita e sou daqueles que votaram PP em 2002 e agora PSD. daí o tentar explicar-Lhe porque o fiz, sendo certo que nestas coisas não se pode concluir muito sobre o futuro.
Em 2002, já se sabia que o PSD iria ganhar. Votar para mim era escolher entre um governo de maioria com Durão, ou em coligação com Paulo Portas. Dado o carácter deste ultimo não hesitei e votei PP. Agora era diferente... Já se sabia que PS iria ganhar e o PSD só fazia asneira. Em Coimbra seria muito dificil o PP eleger um deputado, e por outro lado o deputado do PSD estava em risco. Votei PSD tentando evitar o que veio a acontecer (perda de um deputado para o PS).
Constato que a minha acção levou ao afastamento de Paulo Portas, coisa que não desejava minimamente. Contudo ficarei sempre na dúvida se a sua saída não tinha sido já planeada (quem pôs a faixa nos 10% foi ele, já para não falar na mirabolante ideia do PP>BE+CDU), estabelcendo objectivos inalcançáveis de modo a poder sair de um lugar que Lhe iria ser muito penoso nos 4 anos que aí vêm...
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