PÃO SECO: Porque não se acredita na máxima estóica que manda esperar coisa nenhuma do dia de amanhã? De onde nos vem esta crença que amanhã é que é, que para o ano é que vai ser? Se entrevistarmos um tipo com cancro não encontramos este anseio pelo dia seguinte. Normal, dizem vocês, o gajo está cheio de medo. Pode ser que em alguns casos assim seja, mas noutros nem tanto. Mas deixemos esta "situação-limite" como dizem os psis na sua langue de bois, e viajemos até à terra de outros nativos: os/as que lerparam curto e grosso a meio das suas vidinhas, e que aprenderam a escola de Zenão em lições concentradas: não se espera nada. Népias. Niente. Claro está que nada esperando do dia que virá, o desânimo instala-se. A menos que. A menos que tenhamos já assimilado um princípio ordenador: nada do que é importante, verdadeiramente importante, depende de nós. Mas a esperança no dia seguinte radica na cultura humana da pré-sedentarização ( fogo, agricultura e essas coisas todas) e depois, muito mais tarde, na industrialização: "eu modifico o futuro", logo, eu sou aquilo que "desejo ser". Não por acaso as civilizações axiais esperaram sempre mais do presente, mas sobretudo muito pouco da natureza humana. Hoje, a clonagem é o último grito de uma tendência inevitável que temos em construir o espelho só depois de olharmos para ele. Assim, só acredita na máxima estóica quem não tem outra alternativa. Só acredita no dia de ontem e não no dia de amanhã quem compreende que a sua história individual escapa à biografia da espécie; quem sabe que o pão sobre a mesa está seco no dia seguinte.
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