DESCULPEM-ME: Neste regresso, tenho de começar por me penitenciar juntos dos portugueses (particularmente dos agricultores) pela seca que assola o país: a culpa da falta de chuva é inteiramente minha e pelo facto peço humildemente desculpa. Eu sabia. Eu estava atolado em trabalho mas sabia que dependia de mim a vinda da chuva; já me tinham dito em casa que quando decidisse tirar uns dias estaria a chover copiosamente e eu não quis acreditar, adiei, atrasei, não marquei, marquei e desmarquei, desliguei, não quis saber, provoquei inúmeros prejuízos aos portugueses mantendo-me a trabalhar, dia após dia. Ter cancelado aqueles dias de férias no Carnaval terá reflexos horríveis no PIB nacional. Tudo isto porque eu sabia, eu tinha de saber que mal entrasse em férias, mal atravancasse o carro de tudo quanto há, mesmo que para uns curtos três ou quatro dias fora, começaria a chover. As nuvens abrir-se-iam, as águas cairiam, os campos seriam inundados. E assim foi. Os prometidos passeios a cavalo resumiram-se a uns infelizes narizitos esborrachados nas janelas embaciadas, mirando tristemente os bichos no picadeiro alagado; os passeios campestres, a apanha da fruta, o ir aos ovos, tudo isso foi substituído por puzzles e outros jogos de interior, guerrilhas, estardalhaço e castigos; os castelos que se visitariam e onde poderiam ser fotografados em lutas fenomenais foram vistos ao longe, do claustrofóbico automóvel. E por onde se passava chovia, chovia, chovia. Tive ainda a desconsolada ideia de lhes mostrar a barragem do Alqueva mas foi o fim, o limite. Era água a mais. Água e castelos a mais, sem uma pontinha de whisky que consolasse. E água muito tarde. Por culpa minha, que poderia ter marcado férias para mais cedo. Pois estava escrito que a chuva viria com as minhas curtas férias. Desculpem-me os portugueses.
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