MENOS ZERO: Na sequência do post anterior, falta, entre muitas outras coisas, referir uma palanca negra: a perda na infância. Um miúdo ou uma menina que perdeu um dos pais, por exemplo aos sete ou oito anos, sofre o que vocês não conseguem imaginar. Nem eu, de resto, mas que me habituei a ouvir. Adultos, temos o trabalho, as amigas, o Benfica, mas temos sobretudo o passado atrás de nós. Temos alguma coisa que já fomos, o que ainda que vagamente, nos permite confiar. Em criança, não temos nada a não ser o silêncio. Amanhã, Sábado, era o dia em que o meu pai costumava jogar à bola comigo, muda aos cinco acaba aos dez, penalties só devagarinho. Mas esse Sábado transmuta-se noutro, impecavelmente organizado por familiares empenhados. Só anos mais tarde, quando não conseguimos fazer uma cadeira que seja do curso, ou quando o amor nos parece uma roleta russa, é que damos pela coisa. O João dos Santos costumava contar a historieta da menina cujo pai estava em viagem de negócios e que não queria ir à escola nesse dia. Nesse dia, as crianças deveriam ir mascaradas de princesas e príncipes guerreiros. Quando a professora indagou do motivo da recusa, a menina respondeu-lhe: não posso lutar, o meu pai está em Paris.
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