A BANCADA: Na cidade dos doutores, a bancada central dos sócios da Académica é composta por advogados e médicos, comerciantes e professores, tudo boa gente temente a Deus e ao fisco. Esta boa gente passou o jogo de hoje a imitar o som dos macacos de cada vez que o jogador N'Doye, negro espadaúdo, tocava na bola. A situação tornava-se ainda mais desagradável quando o rapaz, também negro, do tabuleiro das pipocas, circulava por entre os espectadores. Isto é assim há anos, desde que levo o meu filho mais velho ao futebol. No meu tempo de puto era melhor, só chamavam "cabrão do preto" , não imitavam os sons dos macacos. Os psico-sociólogos de pacotilha pretendem convencer-nos que é o ambiente de massas que nos faz piores do que somos. Mas a verdade é que vivemos a semana condicionados pelo peso de dezenas de convenções, e uma vez por outra, como ao Domingo na bancada, somos finalmente aquilo que somos: umas bestas.
Comentário a alguns comentários: Não utilizei a palavra "racismo" no meu texto, porque o assunto era a bestialidade, ainda que no caso descrito, revestida de algo relacionado com a coisa rácica. Concordo que já não se ouvem tantas interjeições macacóides como há 4 ou 5 anos ( apogeu do fenómeno, tem razão o Rui Baptista) mas ainda se ouvem, e o importante ( o insulto rácico) continua lá: para um jogador adversário branco, usamos o que usamos entre nós, numa discussão de trânsito, por exemplo; se o futebolista é negro acrescentamos a desqualificação da cor/origem, como na expressão "ó macaco!". Quanto ao Dário ser um jogador querido da massa associativa e ser negro, não percebo a surpresa do leitor: sempre existiram "pretos bons" - os "nossos", os bem-comportados - e "pretos maus": os "outros", os rebeldes, os fugitivos. O leitor que me falou de serventia ao politicamente correcto não me belisca, pois que eventuais conexões entre o que defendo e "essa coisa", não me fazem deixar de escrever o que entendo que tenho de escrever. Mas o leitor não deve ser cliente regular desta nau, ou teria lido o que publiquei há uns dias: um "poema" da guerrilha anticolonial portuguesa da Guiné, que chamava "macacos" aos negros que colaborassem com o ocupante português.
Pura verdade, e se alguns portugueses conseguem perceber isto nos estádios de futebol,fiquem sabendo que os estrangeiros, brancos ou pretos sentem na pele isto o tempo todo nas formas e formas "dos bestas" se manifestarem.
Há meia dúzia de anos denunciei essa situação num crónica do PÚBLICO, o que me valeu um editorial indignado no jornal do clube. Ainda hoje não consigo perceber como é que os adeptos da Académica são capzes de semelhante comportamento. Ou melhor, compreendo bem de mais. Infelizmente.
Penso que tenha a ver com o fenómeno de comportamento de massas. Só que também concordo que não nos faz piores, apenas nos desinibe. Escudados pelo anonimato do grupo e sentindo-nos amparados pela "cumplicidade" do grupo libertamo-nos. Claro que também existirá algum mimetismo à mistura. Felismente que, por mais grave que esse comportamento seja - e é -, não chegámos a extremos como se encontraram no Ruanda ou então na ex-Jugoslávia. Aí os fenómenos de massas tiveram consequências bem mais graves. Por fim, é irónico que o comportamento que mais se assemelha ao de um símio seja o que se passa nas bancadas, gritos grotescos, falta de civilidade e comportamentos de bando...
A bancada é anonimato e, por isso, irresponsabilidade. Ser pessoa é indissoviável da dimensão da responsabilidade pelo que é de concluir como faz o ilustre autor do "post": somos umas bestas.
O facto de dizermos em massa o que não dizemos sozinhos é apenas cobardia. Não ouvi nem vi o jogo mas gostei do post.
Acho também que para além de sermos umas bestas somos também tão pequeninos que nos move a inveja, neste caso desse jogador, e reagimos, como pequenos que somos, de forma mesquinha e cobarde.
isso não é verdade. Há mais de 20 anos, no antigo terceiro anel isso acontecia. Lembro-me perfeitamente do jogador Freitas (FCP) ter levado semelhante tratamneto. Actualmente é que há uma preocupação excessiva com um pretenso racismo existente no país. Além de ser politicamente correcto, fica bem essa "preocupação". Só que a realidade é bem diferente e está explosiva.
Então e o Filipe continua a levar a criança a ver estas bestialidades? É só inércia... Acabe com isso.Ainda por cima ao ir ver a AAC ainda se arrisca a um problema cardíaco!
Tás a precisar de uma grande reciclagem. Fico contente por aceitares "o cabrão do preto" e tanto de desgostar a voz dos símios. Pelo menos, hoje à noite não te esqueças de tomar os medicamentos.
Também eu lá estive... também eu me indignei. Sócio que sou da Académica, quase desejei que o belíssimo jogador N'Doye - talvez o melhor em campo ? tivesse concretizado a sua exibição com um golo. Sim, todos os que grunhiram foram piores que bestas; todos, sem excepção. Não vi o jogador senegalês olhar uma vez que fosse para a bancada, reagindo aos insultos. Foi imperial, imperturbável e digno. Jogou à bola, deu espectáculo, correu uma maratona, foi maior ? mudo entre as bestas.
Felizmente que nos dias que correm já se protesta contra esta situação, pois bem me lembro há uns anos, no Municipal de Coimbra ou por esse país fora repetirem essa grunhice sem que alguém levantasse a voz contra ela...
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