BANDEIRAS: É curiosa a velhinha dialéctica que se estabeleceu em alguma blogosfera a propósito do 25 de Abril: Liberdade X Copcon, Igualdade X Nacionalizações, Socialismo X Democracia. Os modos discursivos sobre o processo retomam a tensão essencial desse tempo, facto tanto mais peculiar quando observamos que os contendores de hoje são filhos dos contendores de 74/75. Ou seja, as representações fizeram-se autorizando os filhos dos personagens ( imaginados ou imaginários) a falarem por elas. Onde hoje um vê uma coisa, outro vê outra, ambos aparentemente indiferentes ao próprio processo histórico. O jovem bloquista de hoje está-se nas tintas para as acusações feitas ao Copcon, sobretudo se vierem de alguém que ele calcula que se tivesse vivido antes de 74, não teria mexido uma palha em protesto contra os tribunais plenários. O jovem liberal acha incompreensível que se o jovem bloquista tivesse vivido no pós-74, aplaudisse as nacionalizações. Não sei se ambos uma operam uma perigosa a-historicização do processo, mas ambos parecem funcionar num segmento temporal sem qualidades, parafraseando Musil. Quero com isto dizer que ambos se outorgam de um julgamento moral sobre os actores ( o que não tem nada de mal, antes pelo contrário) do processo, ignorando no entanto o texto, o palco e o público. Higienizam o processo, limpam-no das impurezas, deglutem-no e regurgitam-no. E não se entendem, obviamente.
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