COMUNICAÇÃO SOCIAL: João Paulo II resiste, a comunicação social não. Fazê-la esperar pela efectiva morte de João Paulo II era certamente pedir-lhe demais e a comunicação social não resistiu. Foi-se abaixo. Começou a despejar-nos comentários, documentários, filmes, entrevistas, revistas, notícias, testemunhos, depoimentos, tudo como se João Paulo II já tivesse morrido. A comunicação social, que há três dias nos anda a dizer que o Papa está a "viver as suas últimas horas", não conseguiu esperar pela hora da morte, tal era a ânsia de mostrar a notícia. Vai daí pôs tudo o que tinha cá fora muito antes do desfecho final. Provavelmente repetirão tudo depois (alguns dos documentários são belíssimos e merecem ser vistos). A Lux e a Sábado, à cautela, anteciparam-se com edições especiais sobre João Paulo II. Outras revistas o terão feito também, seguramente. E jornais. Ontem, ao fim da tarde, quando regressava a casa, uma repórter da TSF convenceu-me de que Sua Santidade tinha morrido. Disse depois que estranhamente ainda não tinham sido convocados ao Vaticano os Cardeais para a eleição do próximo Papa. Quando a inteligente aventou como hipótese para essa "bizarria" o facto do Vaticano não ter ainda confirmado a morte de João Paulo II, percebi que este ainda vivia, não obstante alguns repórteres o quererem dar já como morto e enterrado, provavelmente para noticiarem a eleição seguinte. Mas o Vaticano tem este tradição (incompreensível para a jornalista) de convocar as eleição para escolher um novo Papa apenas depois da morte do anterior. Esquisitices, pensará a repórter da TSF. Alguns jornais italianos despedem-se já do Papa. As televisões interrompem a programação normal para blocos de notícias especiais, através dos quais nos dizem que João Paulo II... ainda não morreu. Um locutor de televisão perguntava ao entrevistado se seria possível prever o número de horas de vida do Papa. O frenesim está a tomar proporções inacreditáveis. Devia haver nas redacções uma orientação genérica de decoro, algumas aulinhas sobre a maneira de se tratarem os assuntos. Ou, pelo menos, alguns assuntos. Grande parte da comunicação social está a fazer uma figurinha muito triste. Admito que esteja zangada pelo facto de João Paulo II não morrer em directo, preferencialmente em horário nobre e num exclusivo memorável mas isto a que temos assistido não é forma de tratar tão triste assunto. A comunicação social não resistiu à tentação de uma atitude deplorável. João Paulo II, por seu turno, continua a resistir.
Eu aproveitava e dava umas aulas ao Vaticano, também, como gerir a informação. Aulas de ética, claro. Para não baterem só na comunicação social nem fazerem comentários generalistas. É que quem está a manipular a seu belo prazer a comunicação social é o Vaticano e dessa perversidade não se fala neste post.
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