A LER: Uma excelente redefinição do conceito de tolerância, pelo João Miranda do Blasfémias. Se bem entendi o João, instalou-se uma espécie de intolerância face à mera opinião crítica. Por exemplo, se alguém declara destestável e nojenta a homossexualidade, imediatamente é apelidado, em nome da tolerância, de todos os nomes e mais algum, numa atitude que o João classifica, ela própria, de intolerante. A tese do João, revisitando por exemplo Locke, sublinha o seguinte: exprimir uma opinião acerca do comportamento de outro, não significa pretender a sua perseguição física ou moral. Mas se assim é, classificar de nojento quem entende como nojenta a homossexualidade, também não implica nenhuma perseguição física ou moral ao autor de tão assertiva classificação dos costumes. Recentemente, outro João, o César das Neves, exprimiu as opiniões que quis e bem entendeu acerca de muitos comportamentos de muitos cidadãos do mundo , e tanto quanto sei, conservou o corpo, a carreira e a carteira. Pelo que me parece existir um pequeno problema na argumentação do João Miranda. A verdade é que existe um desequilíbrio na densidade de expressão: o politicamente correcto ( não vale a pena estar a explicar em detalhe) exibe uma maior frequência (e por vezes qualitativa) de argumentos nos debates sobre os comportamentos, do que as correntes, digamos, mais tradicionais. Eu também nem sempre aprecio a coisa, mas não me esqueço do tempo em que a balança pendia, e de que maneira, para o outro lado: por se ter uma mera opinião acerca dos costumes e dos vícios, podia-se perder o corpo, a carreira e a carteira. Fica-se com a ideia de que uma visão tradicional da civilização, pede hoje a tolerância que ontem não foi capaz de oferecer. Julgo que a solução é lutar, inteligente e tenazmente, contra configurações conceptuais das quais discordamos; como aliás o João Miranda faz, e bem.
Caro leitor H.Ferreira: são coisas diferentes, de facto, mas julgo que o plano comunicacional a que aludia o João Miranda não as distingue. Qualificar a opinião de imbecil é práticamente o mesmo do que qualificar o autor. Senão veja: raramente uma opinião de Mário Soares é classificada de forma tão acintosa, precisamente porque existe o risco de ofender o personagem. É uma pena, mas cá na terra confunde-se amíude a palavra com a língua.
"Mas se assim é, classificar de nojento quem entende como nojenta a homossexualidade, também não implica nenhuma perseguição física ou moral ao autor de tão assertiva classificação dos costumes." Caro FNV, ou ha aqui confusão ou percebi mal, ou isto remete-nos para outro tipo de discussão. Pode entender-se a homossexualidade como nojenta, essa ideia pode ser classificada como nojenta, mas a pessoa ser classificada como tal, parece-me ser precisamente a intolerância a que se refere o João e aqui ja ha perseguição moral. O que nos remete para "O que é a coisa?"
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.