«A MINHA PISTA DE CARRINHOS»: Lembro-me como se tivesse sido ontem. Saímos de casa num sábado de manhã e o mano mais velho levava o pilim porque eu «ainda era pequeno demais para andar com tanto dinheiro». Eram 4.300$00. Tinha poupado tostão a tostão durante anos para a comprar e tinha-a namorado durante meses naquela montra inacessível, com medo de que desaparecesse, com medo de que alguém a comprasse (na altura, os bazares não tinham o stock infinito que hoje têm e eu pensava que, se aquela pista fosse vendida, nunca mais encontraria outra igual. Felizmente, na época, os brinquedos também não desapareciam dos escaparates com a facilidade e rapidez com que hoje voam...). Era da Jouef (a marca tinha sido decidida com rigor mas parcimónia). Era um oito com uns "esses" suplementares. Trazia um Porche 991 amarelo e aquele belíssimo BMW 2002 GT branco com riscas azuis e vermelhas. Achávamos o BMW mais leve e por isso mais rápido nas rectas mas o Porche era muito ágil nas curvas e rabiava maravilhosamente. Uns tempos mais tarde convenci o caçula (que nem achava muita graça àquilo) a comprar um Alfa Romeu GTV 2000 cor de vinho (um pouco ronceiro e escorregadio nas curvas mas muito fiável). Entrámos na época da F1 e adquiriu-se um Brabham BT 46 (o mais rápido); um Wolf, o Tyrell 008 da First National City e, claro, uns quantos Ferraris (a minha única concessão ao vermelho...). Depois uns Porches e Renaults da categoria Le Mans (ainda hoje me recordo com enorme gozo da maravilhosa confusão que criei no grupo de amigos que, em Barcelona, teve de esperar pelas minhas escolhas na loja da especialidade). Ao mesmo tempo, a pista ia crescendo, com a compra de diversas placas de recta (150$00) e curvas diversas (120$00). Tenho ideia de que a empregada do Bazar Coimbra (julgo que agora se chama Românica) me odiava por eu passar o tempo a perguntar quanto custariam os rails, os pneus suplementares, os motores, as placas, as escovas, enfim... toda aquela parafernália que eu adorava possuir. Ao longo dos anos a pista foi crescendo. Num ano de grande generosidade, foi-me oferecida uma mesa enorme, monstruosa, que ia para o pátio no Verão para os concursos de ping-pong familiares mas que, no Inverno, era colocada numa das salas para acolher a minha pista, que já só cabia na dita mesa com longas rectas nas extremidades e um miolo cheio de curvas. A última vez que (parcialmente) a montei foi numa memorável noite de estudo de Direito Constitucional com excelentes amigos, embora tudo tenha acabado num acidente terrível (uma vez mais provocado pelo álcool ao volante - um dos convivas fez tombar uma garrafa de Johnnie Walker sobre as calhas).
Adorava a minha pista de carrinhos, adorava-a mesmo! E gastei com ela rios de dinheiro. Enfim... claro..., nada comparável com o que Rui Rio gasta com a dele.
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