AINDA SOBRE A DIFERENÇA ENTRE CAMPEÕES E CAMPEÕEZINHOS: O João indigna-se com o meu post Campeõezinhos, expondo as razões por que discorda de mim e censurando-me implicitamente, se bem percebi, a falta de desportivismo. Ora bem. Sou sócio do FCP há quase 38 anos, sou portista aguerrido, parcial, mas não creio que seja faccioso. E como a escrita do João me merece sempre muita estima, aqui estou a tentar responder-lhe. Vamos então por partes. Em primeiro lugar: não tive a intenção de "apoucar" os feitos dos adversários. Como escrevi antes da última jornada, quando o FCP ainda podia ganhar o campeonato, e reiterei depois numa resposta a um comentário, nenhum clube merecia esta época, do meu ponto de vista, o título de campeão. Campeão, para mim, é aquele que ao longo de um ano, mostra futebol de qualidade superior à generalidade dos restantes clubes - e por isso sucede também, às vezes, que dois ou três clubes mereçam ser campeões, porque jogam melhor que todos os outros e disputam o título até ao fim. Acho que, este ano, não foi o caso: qualquer equipa que ganhasse o campeonato seria, apenas, um campeãozinho. Isto leva-nos ao segundo ponto: a apreciação material do futebol que se praticou. Partindo do princípio que as 4 ou 5 equipas que terminam na frente são melhores que as restantes, é de esperar que sejam elas a proporcionar os melhores espectáculos. Todavia, os jogos em que essas equipas intervieram este ano foram, na sua generalidade, maus ou medíocres, sem arte e sem fulgor. Vi apenas um grande jogo de futebol este ano (o Benfica-Sporting, para a Taça). O resto foi confrangedor. Sim: pode ter havido um ou outro jogo do Moreirense, ou do Estoril, ou do Nacional (e também, seguramente, do Sporting e do Braga), qualificável como bom ou muito bom. Mas não chega para fazer a primavera de "um bom campeonato". Claro que esta apreciação material é puramente subjectiva e, portanto, matéria de opinião: cada um gosta do que gosta. O que já não é matéria de opinião - e este é o terceiro ponto - é que a disputa do título até à última jornada (entre duas, que poderiam ter sido três, equipas) seja equivalente a um grande campeonato. Diz o João que "é asneira pretender que o campeonato foi nivelado por baixo". Eu digo que não é. E digo porquê. Os cinco primeiros classificados deste ano somaram, todos juntos, 300 pontos. No ano passado, os cinco primeiros classificados somaram, todos juntos, 339 pontos. Isto significa que os cinco primeiros perderam este ano mais 39 pontos nos jogos com os restantes clubes. Só que esses 39 pontos não serviram para aproximar os 5º, 6º e 7º dos primeiros: o 5º classificado deste ano (o Guimarães) somou os mesmos pontos do 5º classificado do ano passado (o Sp. de Braga): 54. Na verdade, as 10 equipas do meio da tabela (entre o 6º e o 15º classificado), todas juntas, somaram apenas mais 11 pontos do que no ano passado (436 contra 425): cada uma fez, em média, mais 1 ponto. O que sucedeu foi que os três últimos (Moreirense, Estoril e Beira Mar) somaram, juntos, 94 pontos, mais 14 do que os três últimos do ano passado (Alverca, Paços de Ferreira e Amadora): cada um fez, em média, mais (quase) 5 pontos. Isto é o que eu chamo um campeonato nivelado por baixo, em que as melhores equipas perdem muito mais com as piores equipas. Um campeonato nivelado por cima seria, para mim, aquele em que as 4 primeiras equipas fazem mais de 70-72 pontos cada (convém lembrar que, o ano passado, o 2º e o 3º classificados fizeram, cada um, mais 12 pontos do que este ano) e em que a discussão do título entre elas dura até ao fim. Isso sim - e continuando a partir do princípio de que as equipas de topo praticam melhor futebol do que as do fim da tabela -, seria um indício seguro de que houve bom futebol e nervos q. b. Enfim, como se compreenderá, os feitos internacionais das equipas portuguesas - que até jogaram bem nas taças europeias - são absolutamente irrelevantes para a questão de saber se o campeonato nacional foi nivelado por cima ou por baixo. Por último, não sei se o remoque das pessoas que "de facto não gostam de futebol" também me é dirigido. Se é, só posso dizer que, provavelmente, gostamos de futebóis diferentes. ADENDA: O Américo de Sousa, com aquela ironia bem disposta a que nos habituou, propõe a criação de uma terceira categoria: a dos campõezecos... Tá bem, Américo... seja!
Sem prostituição, o Benfica foi campeão! e Ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica, ninguém pára o Benfica Oh Eh Oh!
O Benfica foi CAMPEÃO dentro de campo. O que se passou no futebol português nos últimos vinte anos será esclarecido em tribunal, se para tal houver coragem! artur
"O Benfica entrou para a história como o pior campeão do futebol português, à luz da frieza dos números, ao conquistar apenas 63,7 por cento dos pontos possíveis na edição 2004/2005 da Superliga. A formação "encarnada" somou 19 vitórias, oito empates e sete derrotas, correspondentes a 65 pontos, marca bem inferior ao anterior mínimo, os 29 pontos, em 14 rondas, da versão 1935/36 do clube (69,0 por cento de aproveitamento - convertendo os triunfos a três pontos). Estas duas épocas são as únicas em que o campeão não atingiu a barreira dos 70 por cento de pontos conquistados, já que, na temporada (1968/69) que fecha o pódio das piores, o Benfica alcançou 70,5 por cento (55 pontos, em 26 jornadas)" In Agência Lusa Abraços
Só um breve comentário para esclarecer que não me «indignei» (não me indigno com facilidade, muito menos com opiniões respeitáveis) e não pretendi acusá-lo de não gostar de futebol.
Quanto ao resto, apreciei, como de costume, a qualidade da sua argumentação.
Sr. Artur: obrigado pelo seu relevantíssimo contributo para a discussão. Caríssimos Dylan T. e João: Privilégio raro ter dois dos meus bloggers preferidos a comentar um post. Ao Dylan T.: percebo que o que o incomoda é a palavra "campeõezinhos". Mas deixemos de lado os nomes: as coisas são diferentes do que eu escrevi? Conceda que as taças europeias, onde o destino se resolve, a partir de certa altura, em dois jogos contra a mesma equipa, são muito diferentes de um campeonato nacional, onde a qualidade se testa durante um ano, com regularidade semanal, contra 17 equipas. Não sei se o que escrevi se pode aplicar às taças europeias, mas acho que o que aí se passa não é argumento para a minha discussão. Ao João: é verdade que não se "indignou" (foi a minha reacção epidérmica ao "não é bonito" e à "gente que não gosta de futebol", onde, de facto, não me revejo), e até me atrevo a dizer que sei que não se indigna com facilidade. Mas isto anda tão mortiço que a gente às vezes tem que salgar um bocadinho além da conta... ;) Um abraço para os dois.
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