AINDA SOBRE OS PADRÕES CIVILIZADOS: Com um olho aí em baixo ( na discussão entre o PC e leitores/bloggers amigos) e outro no meu post sobre a intendência espadiana e o problema dos "padrões civilizados", uma ou duas notas. Parece ser consensual entre a gente instruída, que os programas de educação sexual no ocidente começaram após aquilo que preguiçosamente designarei como revolução cultural dos anos 60: basicamente, a pílula e codificação de um novo super-território, a saber, a "juventude". A tão vulgarizada emancipação feminina, a politização dos campus universitários e a conquista de um pacote de liberdades ligadas a comportamentos tiveram o seu impacto inevitável na sexualidade. Como é natural, surgiram problemas: se por volta do início dos anos 80 uma míuda de 16 anos podia sair à noite e voltar de madrugada, as gravidezes deixaram de ser uma ocorrência intermitente, produto do cruzamento da moça com o pastor, num qualquer e longínquo silvado; Também a clássica escorregadela do filho do patrão com a jovem criada de dentro estava condenada. O prazer descia á rua, a História não podia voltar para trás, e assim nasceu ( aperfeiçou-se) a educação sexual. Essencialmente, a educação sexual é uma história de dominação. O que foi necessário foi controlar, e por isso os primeiros programas assentavam na racionalização dos comportamentos, à boa maneira das teses cognitivistas, e na explicação: mostre-se o detalhe na esperança do todo passar despercebido. Aqueles que olham para a educação sexual como uma conspiração de relativistas libertários arrancam-me bocejos de tédio. A educação sexual nas escolas é uma ferramenta institucional de modelação de comportamentos, tão libertária como as campanhas contra a hipertensão. O que confunde, por vezes, os indignados, é a existência irrelevante de dementes no meio da fauna de educadores e a linguagem utilizada. Os pais gostariam de poder decidir quando e como expliar aos seus filhos certas coisas; alguns, de preferência, no dia de São Nunca À Tarde. Mas os programadores da educação sexual também não vão longe. Já não é na escola institucional ( professores e programas) que a malta aprende a cultura vigente, e o sexo é um problema da cultura vigente: é na rua, na net, no café, na TV, na play-station. O SIDA e o planeamento familiar são suficientes para justificar, numa sociedade minimamente civilizada, alguma informação escolarizada sobre sexo a miúdos/as pré-púberes. O resto é delírio, e é como tal que deve ser tratado. Há gente que receia o delírio? Essas pessoas fazem bem, por definição deve evitar-se o delírio. Mas não sei porquê, parece-me que chega a Portugal uma onda vagamente inspirada no risorgimento do puritanismo norte-americano ( agora designado por neo-conservadorismo) e confusamente misturada com a defesa dos valores da cristandade. Atentem neles, tanto quanto nos delirantes. O puritanismo americano nasceu em meados do século XIX, e de cada vez que espreitou, ao longo do século seguinte, fez asneira: na Lei Seca, o período de maior corrupção larvar na América e nos anos 50, que não souberam preparar a revolução cultural. Um exemplo: sabem que alguns estados americanos resolveram, em nome dos bons costumes, proibir uma instituição quase centenária nos recintos desportivos, as majorettes?
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