AO AUGUSTO M. SEABRA: Só posso agradecer-lhe, para além da simpatia, os pontos que trouxe para a discussão. Uma nota final, no entanto, apesar de AMS saber mais sobre a produção cinematográfica nacional a dormir do que eu acordado. Conheço alguns dos exemplos que referiu, mas continuos a classificá-los como insuficientes. Um miúdo português médio exibe maior familiaridade com figuras nacionais francesas, inglesas e americanas, do que com as portuguesas, por causa do cinema. E não se trata de glorificação nacionalista, trata-se de construção de identidade, e até, se se usar uma perspectiva francamente crítica, da construção do nosso olhar sobre os outros. Apelando a códigos de sedução mastigáveis - heróis, vilões, acção, romance - tanto que se poderia filmar sobre o nosso passado: as travessias africanas de Serpa Pinto - agente colonial, o episódio autista de Salazar em Goa, os luso-contrabandistas de ópio em Macau no século XVIII, enfim, toda uma série de episódios. Não tive ainda oportunidade de ler o famoso livro de José Gil, mas suspeito que muito do nosso receio, da nossa angústia actual, se prende com a falta de uma base identitária. Aliás, a histeria que nos marca, como toda a histeria, cresce contra os factos ( desde a cena paroxística para evitar discutir determinado assunto, ao clássico episódio conversivo que cria um braço paralisado). É fácil protestar contra a hegemonia da cultura americana, e depois, diante de um dos territórios dilectos dessa hegemonia, assobiar para o lado; isto é, produzir em catadupa ( passe o exagero, OK) uma narrativa cinematográfica quase sempre intimista e psicológicamente densa.
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