AO REPTO: Lançado pelo PC. Respondo com gosto, até porque meia-blogosfera está neste momento entretida em arranjar forma de festejar a vitória do "Non" sem se cruzar com monsieur Le Pen e os neo-trotskystas, todos de garrafa na mão. Vamos então à discussão em torno da possibilidade da educação sexual nas escolas ser uma representaçãodo nosso inconsciente sexual colectivo, e sobretudo, ser uma projecção nos miúdos, daquilo que nós pensamos sobre o assunto, sem que tal engendre histerias inconsequentes. Gosto de imaginar os modelos de (in)formação comportamental como falantes de uma língua do centro. Com isto quero dizer que os transtécnicos do Estado - seja na prevenção rodoviária, seja na prevenção do HIV, seja onde que tais coisas ocorram - são tradutores de uma preocupação: estar na comunidade, estar com todos.Isto significa um desejo de uniformização, que claramente se impõe a partir de representações maioritárias, e aí a Zazie tem razão, ideológicas. A noção de "inconsciente sexual colectivo", se tomada como um arquivo de representações que se acumulam em alegre desordem, pode de facto ser tentada a ser transmitida geracionalmente. É essa aliás uma das funções básicas dos processo de influência social, cujo escola S. Moscovici fundou a partir dos anos setenta. Mas o carácter orgânico de um tal conceito tem dificuldade em sobreviver à fragmentação dos modelos representacionais actuais. Temos então a discussão sobre os psicólogos do Estado, os que ficam , coitados, encarregados de assegurar a transmissão da mensagem. Que fazer? O meu caro PC aponta um factor essencial: o que pensamos nós ( eles, os psicólogos do Estado) que os garotos já sabem? É aqui que eu insisto: não interessa. A função destes funcionários é assegurar a transmissão daquilo que as gerações dominantes julgam ser necessário. A língua do centro tende para a neutralidade ( de resto, uma das formas de tolerar os eflúvios do inconsciente) procurando tecnicizar a comunicação. Se repararem bem, os mais delirantes manuais propostos ( que não aceites, note-se) preocupam-se exclusivamente com a técnica ( há-de chegar o tempo em que se ensinará a melhor técnica de manipulação do clitoris, tal como hoje já se ensina um heroinomano a escolher a melhor e menos martirizada veia para a injecção). Claro que sim, pois que é para isso que os funcionários estão treinados. Diz-me o PC: e não se pode discutir isto calmamente? Tanto pode que ninguém morreu ainda, PC: tens de ser mais ( historicamente) optimista...
PS: Como é hábito nas nossa discussões, temo bem não ter respondido ao que o PC queria (embora ainda tenha mais umas notas para acrescentar que talvez minimizem o desencontro) ; é da praxe.
Eu começava logo por questionar esta formulação. Para já porque temo que nem se trate de psicólogos. Tudo isto é mais um prolongamento da reforma Benavente e a coisa foi deixada aos formadores da APF e quejandos. Tudo indica que funciona em auto-gestão. Basta ler as famosas ?linhas orientadoras? para se entender isso. grande parte é verbo de encher, como a tal importância de ?envolver os pais no processo?. Eles dizem sempre isto pelas piores razões. Basta ver a ligação à fregueis, ao presidente da Câmara, ao maralhal todo que metem lá dentro e que é uma das grandes razões pelo estado em que se encontra o ensino.
Neste caso é demagogia, porque não pode haver envolvimento numa disciplina que não existe mas que pode ser dada por qualquer prof em qualquer aula da primária ao secundário. Os requisitos são zero e a coisa quanto muito negoceia-se em mais uma ou outra ?acção de formação? e redução do horário - a ver...
Voltando então ao que tu chamas psicólogos do Estado ou pensamento dominante:
Não existe. Está dividido conforme a função.
Se formos para os tribunais de Família, onde deixaram de colaborar com o antigo grupo de psicologia infantil que funcionava no Júlio de Matos, temos os psicos a trabalhar para as Assistentes Socais. De forma totalmente dependente da ?ideologia? jurídica no caso. Perderam mesmo a boa autonomia que tinham os exames feitos pelos outros que não eram funcionários do tribunal.
Bom, mas aqui qual é a psico familiar que domina: é a freudiana. A freudiana com umas pitadas de direitos das crianças à velho poster da Itau. E isto traduz-se na tónica na importância do famosos Édipo bem resolvido e na importância das figuras parentais. A bem ou a mal. Na maior parte dos casos a mal porque mesmo que a criança seja espancada por uma destas importantes figuras não há lei que interfira e a psico acha sempre que é muito importante o convívio.
Pois bem. Agora passamos para a psico-ideológica da escola. E aí vamos para a APF e Linhas Orientadoras. Mas vamos também para o que vai na cabecinha de cada prof já bem doutrinado pelas ?pedagógicas?.
E aqui temos a versão área escola metida a título de complemento de formação cívica da dita sexualidade. Bem, o resto parece que já sabemos a história: o Édipo foi à vida mais o Freud, a família é bom que se aprenda que pode ser muito colorida e muito alternativa mesmo que a lei ainda o não permita (mas sobretudo para ir preparando as mentes que é bom que venha a permitir), temos a sexualidade alternativa por via do ?multiculturalismo sexual? temos o efeito behaviorista de que é bom aprender que tudo pode ser de uma maneira ou de outra com a intenção de não se formar um padrão pessoal mas antes baralhá-lo no complexo de que se assim o não fizer está a ser mau cidadão- está a ser intolerante.
È isto, meu caro, que penso que é o tal efeito ideológico na sexualidade. Acrescente-se o totalitarismo, o dirigismo, o espírito de grande educador e a importância da uniformidade a bem de do futuro.
se fosse cínica dizia-te que nestas "ideologias" todas o que também existe é grande espírito prático. Nuns poupa-se trabalho não se mentendo em trabalhos que o Estado não dá para tudo e o Freud é muito importante para justificar que a família se amanhe, com mais espancamento menos espancamento.
No outro a "ideologia" é mais desprendida. Segue o pensamento da tendência uniforme do voto que nunca saiu do ministério desde que aconteceu o PREC...
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