CONTINUANDO...: Bem, isto tornou-se numa verdadeira conversa, quase epistolar, entre várias pessoas de que gosto. Óptimo! Queria deixar mais uma nota para reflexão e um desafio ao FNV. Quando eu tinha 10 anos, optei por assistir às aulas do que então se chamava "Religião e Moral". Estávamos em 76-77 e a professora era freira. Perguntados sobre a matéria que queríamos ver abordada nas aulas, respondemos: "educação sexual". Não porque não soubéssemos aquilo que a generosa senhora se dispunha a esclarecer (na altura, não se falava de contracepção, nem de prevenção de DSTs; a educação sexual era, basicamente, uma descrição dos órgãos sexuais e do processo reprodutivo), mas pela perversidade de ouvir uma freira a pronunciar as palavras pénis, vagina, etc*. No nosso percurso posterior, nada identificou a minha turma como particularmente precoce. Esta distância entre a realidade das coisas e a percepção que dela têm os adultos faz-me pensar que grande parte da discussão que agora se trava sobre a educação sexual nas escolas é, antes de mais, uma discussão sobre as nossas representações da sexualidade, em geral, que depois adaptamos ao caso específico da educação sexual de crianças e adolescentes. Sucede que, nesse processo de adaptação, pode perder-se o essencial: as tais representações genéricas não servem necessariamente a resolução do problema concreto. Creio que este ponto de vista perpassa também em vários posts do meu amigo FNV, e aqui lhe deixo o desafio para que o trate expressamente (quando acabar de ver o jogo, é claro): a discussão sobre a educação sexual é, ou não, um excelente campo de trabalho para a análise do inconsciente colectivo relativo à sexualidade? E de que forma se pode discutir racionalmente o tema, com atenção às suas exigências particulares, evitando o mais possível que seja prejudicado pelas nossas concepções genéricas sobre a sexualidade? *Antes que me perguntem, não desenvolvi nenhum fetiche relativo a freiras.
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