MINISTRO DA JUSTIÇA III: A falta de seriedade do Ministro da Justiça advém de um outro factor. Em boa verdade, todos sabemos que esta ideia da limitação das chamadas "férias judiciais" deverá ter saído de uma qualquer reunião de café, de alguém que se lembrou da coisa sem saber nada sobre o assunto, até porque nada disso foi dito na campanha eleitoral. Deve ter sido na base do "e se fizéssemos isto?" E como, para cúmulo, a população apelida ignorantemente as "férias judiciais" de "férias dos juizes", o tema até seria popular. Terá sido, portanto, aquilo que os próprios socialistas chamariam, com o coro da comunicação social, uma "santanice" (isso mesmo nos foi revelado - a acreditar no que dizem alguns Deputados à AR - quando, interpelado por Odete Santos, o Primeiro-Ministro se socorreu de António Costa demonstrando não saber sequer quanto tempo durariam as chamadas "férias judiciais"...).
Contudo, de um Ministro da Justiça exige-se que saiba minimamente daquilo que trata e do que discute e não que defenda obstinadamente aquilo que alguém se lembra de deitar cá para fora, entre duas rodadas, mesmo que não faça o menor sentido.
Um Ministro da Justiça a sério deveria saber que não se deveria aproveitar da ignorância da população face ao modo de funcionamento das instituições para atacar - injustamente - as magistraturas que deveria apoiar e defender. Ao colocar o odioso de uma menor qualidade do funcionamento da Justiça na questão da chamadas "férias judiciais", o Ministro da Justiça está a (não só a mentir descaradamente como a) atraiçoar todos aqueles funcionários que, sete dias por semana e 365 por ano, se dedicam - uns melhor, outros pior - a fazer o seu melhor pela máquina da Justiça, muitas vezes em condições miseráveis.
Até há bem pouco tempo, os juizes que ficavam à noite a trabalhar nas Varas Cíveis do Porto tinham de se munir de lanternas para poderem circular pelos corredores do tribunal!!! Em muitos outros tribunais não há segurança que proteja um juiz, um procurador um advogado ou mesmo um funcionário judicial de ataques de terceiros. Alguns tribunais funcionam em prédios de apartamentos ou edifícios comerciais. Em inúmeros tribunais os juizes não têm bibliotecas, aquecimento, ar condicionado, computadores minimamente modernos, internet a funcionar, cadeiras, mesas, nada! E toda essa gente trabalha, desenvolve a sua actividade na medida do possível e sem se queixar. E o Ministro que tutela a área quer fazer crer à população que a panaceia, o princípio de todos os males, são as férias judiciais. Em qualquer sistema democrático decente, um Ministro assim era imediatamente chutado a pontapé. Sublinho: num "sistema democrático decente" e "a pontapé".
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