NORMALIDADE: Graças ao João Miranda do Blasfémias, encontrei um texto do Avante da semana que findou. Nesse texto, o chefe de redacção , Leandro Martins, diz em editorial, em 2005, entre outras coisas, o seguinte sobre o consulado de Estaline: "(foi) a mais brilhante conquista da história da humanidade". Reacções? Nenhuma. É normal, tudo perfeitamente normal. Este jornal é o orgão oficial de um partido que passa a vida com as palavras liberdade, justiça e paz afixadas à boca, e de dedo em riste contra os opressores. Alguém se incomoda? Não. Ninguém. Nem TSF's, nem TV's, nem imprensa. Isto é interessante, porque demonstra como o PCP sabe que pode elogiar Estaline na ex-URSS e defender os direitos humanos em Guantanamo. E foi sempre essa a doutrina, apoiada pelos dirigentes actuais. Os que agora não estão no PCP ( alguns sairam bem recentemente), quando lá estavam, também assinavam por baixo a original agenda de defesa dos direitos humanos ( o que explica em parte a ambiguidade em relação à Cuba de Castro, por exemplo). Mas o silêncio habitual face a coisas destas - diverso, é certo, do elogio desbragado como o do Avante - apenas nos relembra uma velha verdade da inteligência ocidental. Não se tendo conseguido desembaraçar do complexo pós-marxista dos anos 60, manteve até aos dias de hoje a matriz genética: os crimes da engenharia social são sempre mais toleráveis do que os do capitalismo. Por isso Pol-Pot ficou com as mãos livres em 1975 para conduzir um competente genocídio: Jane Hanói Fonda já não morava ali.
Vá lá, uma ajudinha: Comunistas 'reabilitam' o mandato de Estaline Ex-ditador soviético descrito como "revolucionário" nas páginas do "Avante!" DN- 16.05.2005
Talvez o significado seja mais simples (e de certo modo ainda mais deprimente). Já ninguém liga ao PCP, nem o PCP espera que alguém lhe ligue grande coisa. De partido acossado passou a partido geriátrico e patético, incapaz de produzir discurso que não o da mais básica cartilha fabulatória. Cartilha sem qualquer alcance político, ou aspiração a "normalização ideológica". Não suscita reacção, porque é como assistir a um velho decrépito, degradado a protestar verdades inverosímeis. Quem ouve cala por compaixão.
O nazismo era também uma doutrina de engenharia social. Com base em teorias racistas, de supremacia de uma raça, é certo, mas toda a sua doutrina visava a transformação social. A subordinação de todos por igual ao conceito de Estado-Nação imperial. A ideia de igualdade (perante os superiores valores da raça e da nação) estava inscrita na sua matriz genética. A grande acusação aos judeus era justamente a sua natureza de capitalistas sem escrúpulos e manipuladores. Não é por acaso que se denominavam nacional-socialistas e não nacional-capitalistas ou nacional-liberais.
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