O BENFICA: É altura de explicar, sobretudo aos que não o sabem, o que significa o Benfica. O que sou eu? Um tipo mediano. Nasci sossegado, cresci entre paredes ( demasiado) confortáveis, pelo que logo que me apanhei à rédea solta, tratei de fazer algumas asneiras, é certo, mas também algumas coisas interessantes. Poucas. Estudei, casei-me, tive filhos : tenho hoje menos um do que deveria ter, é o que mereço, provavelmente. Tudo banal. O meu trabalho tem variado ao longo dos tempos, até nisto sou meridianamente mediano. O futebol, para mim, é a cama onde encontro o meu amor ou a minha morte. Se vejo futebol, gosto; se vejo o Benfica, morro. De cada vez que vejo o Benfica, mesmo num particular de pré-época, feneço. O Benfica é uma angústia mortal, um sinal de que algo não está bem, de que algo vai acontecer. Perguntam vocês: então e quando se ganha? Nunca se ganha verdadeiramente. A vitória, qualquer vitória, é uma absoluta ilusão, como se sabe. O Benfica, batido num edifício de influência familiar, sobretudo de um pai que eu via pouco, acompanhou-me até hoje como uma constante imerecida. Noutras categorias, como nas da comunhão, o Benfica ilude-me os mares e as raças, os rios e os povos, apanha-se num taxi ou numa taberna. Um sobressalto de leopardo: amorfo quando o queremos cantar, eléctrico quando já nem o julgavamos vivo. Num certo plano, a coisa é um objecto contra-fóbico: põe-te sossegado quando estás nervoso, desassosega-te quando estás pasmado. A sua constância ao longo dos anos e do chumbo, transformou-o na minha arma predilecta, na que nunca falha, pois que está sempre lá, que sempre funciona. Que mais pode um homem, condenado ao Círculo nono, esperar, senão uma ilusão que o restitua ao Inferno?
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