O DUQUE E O MENDIGO: O Duque de Portland era famoso por entre a gentry pelos seus multiplos dotes: fortuna, coragem e espírito. De resto, a rainha Vitória e o parlamento não o dispensavam. Mas certa vez, regressado do Levante, longínquo e imperial, refugiou-se no seu castelo à beira do promontório de Portland e desapareceu de circulação. Os rumores multiplicavam-se, desesperados. Um ano mais tarde soube-se que o Duque tinha morrido de lepra. Numa das suas viagens, nos arredoresde Antioquia, ouviu falar de um mendigo eremita que agonizava com a grande lepra antiga, a lepra-seca. O Duque , num arroubo de valentia, foi visitá-lo contrariando os conselhos dos seus acompanhantes; entrou na caverna do moribundo, deu-lhe um punhado de moedas de ouro e apertou-lhe na mão. Adeus juventude, adeus noiva prometida, adeus glória: o Lorde herdou do mendigo. Um instante de bravade (ou um gesto demasiado nobre?) arrastou aquela existência luminosa para o segredo de uma morte desesperada. Esta estranha história vem publicada nos Contes cruels ( 1883) do genial Viliers De L'Isle-Adam, que já aqui trouxe noutras ocasiões. A lepra do Duque de Portland é contraída no Oriente devido a um acto trop noble, como explicitamente crava Villiers. Há aqui uma ironia evidente sobre a presença imperial do europeu no Levante, uma certa premonição mesmo. Mas também um tom habitual em Villiers De L'Isle-Adam, condensado num aviso que ele dizia ter encontrado à beira de um antigo carreiro:
"Bonnes gens, vous qui passez, Priez pour les trépassés."
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