PORQUÊ?: Na semana em que os portugueses são confrontados com a sua falência, enquanto estado, vale a pena questionar as causas para tal ocorrência, tendo sido divulgados alguns dados estatísticos que nos mostram como somos dos países europeus que mais investem na justiça, na saúde e na educação - mesmo comparando com Franças, Alemanhas e Suécias. Penso que a principal causa deste estado de coisas prende-se com a cultura de laxismo e desresponsabilização em que vivemos nas últimas décadas e cujos principais responsáveis são os políticos que nos governaram entretanto. Chegámos a um ponto de degradação tal que os nossos dois últimos primeiros ministros venceram eleições mentindo descaradamente aos eleitores sem que houvesse qualquer censura social por esse facto, como uma população que já se habituou a enganar e a ser enganada e para quem a palavra "responsabilidade" apenas tem lugar no dicionário. Já passaram mais de 30 anos sobre o 25 de Abril. Mesmo dando de barato que tivemos que "levar" com certas "heranças" deixadas pelos exageros do PREC e da reacção generalizada em sentido contrário ao regime fascista então derrubado - o preço a pagar pela liberdade? - não me parece que tais excessos justifiquem que estejamos atolados como estamos, tanto tempo depois. Assim, sobra espaço para a "responsabilidade" de quem tinha (e tem) o poder de decidir. A dita desresponsabilização que hoje vigora na nossa sociedade foi alimentada, em minha opinião, por quatro vias principais e complementares. Em primeiro lugar, a forma como se deixou degradar o funcionamento da justiça - nenhuma sociedade pode permanecer sã se os cidadãos não têm maneira eficaz de fazer valer os seus direitos. Em segundo lugar, nunca se mudaram as jurássicas leis laborais, que permitem que um contrato de trabalho seja encarado (e desempenhado!) como se de uma reforma se tratasse -qualquer investimento em produtividade esbarra no escudo dos direito adquiridos, o qual não parece contemplar obrigações. Em terceiro lugar, a falta de "vontade política" em reformar (leia-se "afrontar") a administração pública que, como é sabido, é quem decide as eleições. Finalmente, o próprio comportamento político dos nossos governantes, que nunca aceitam responsabilidades por coisa alguma e que, por via disso, serão aqueles que mais beneficiam da desresponsabilização vigente. Mas, como se costuma dizer, o exemplo vem de cima... Goste-se ou não, vamos sempre parar aos mesmos responsáveis. E, se estes não mudarem o seu registo, acredito que será o próprio regime a mudar. Brinca-se com o fogo.
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