REPETIÇÃO II: Então e a ternura, dizem-me, como é de violência e de dominação? A ternura é outra coisa, um brioche, pó de talco. Mesmo com as crianças, o amor é violento: despedaçamo-nos se elas sofrem, queremos decidir da sorte das sinapses. Educação, batida e ainda bem, na dominação, há aqui histórias de tecidos e ligamentos que convivem mal com refrões da pop-music. O objectivo do amor é prolongar o próprio amor, não é? Ou conhecem alguém que ame a prazo, só até ao Outono? Prolongar uma coisa que se tem com outro é dominar a corrente, e não conheço forma de dominar correntes sem exercer violência. Betão na água, enfiar o outro no bolso e sair satisfeito a assobiar. O amor é a casa dos pronomes possessivos, sabes bem. Mais não fosse, qual a única coisa que nos liberta do amor? Uma palavrinha terapêutica, a traição, a gordura? Nada, nem a morte. Como não ser da ordem da violência e do domínio, essa coisa do amor.
PS: O Afonso/Bombyxmori recordou-me Luhmann em boa hora: em todo o começo impera a diferença, não a unidade. Amassar, amassar sempre...
Ainda bem que o Filipe escreveu a "Repetição II", porque confirmou-me que as palavras dominação e violência não tinham o sentido "azedo" que uma comentadora lhe atribuiu.
E continuo na minha certeza de que ao dizer-nos que o amor "mata tudo, até o tempo" isso significa que o amor é mais forte que a morte, porque a supera. Bom fim-de-semana!
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