ALIENS II ( ao correr da pena): Na antiga ordem leninista, o inimigo era, em toda a parte em que respirasse, o capitalista ocidental, o burguês. Numa certa visão idealista da política islâmica, os elementos tribais são os portadores da primitiva comunidade política. A ummah ou umma, a comunidade dos crentes, viveu sempre em muitas seitas islâmicas, sob o patronato da corrente sunita e sob uma fortíssima visão religiosa, asseguram alguns. O que é relativamente aceitável, é que os regimes fundamentalistas e os embriões comunistas partilharam uma orientação universalista: mudar a ordem social, subverter as unidades étnicas ou nacionais, transformar em nome da salvação. Basta ler os exórdios das personagens mais conhecidas do neo-fundamentalismo sunita ( estão disponíveis na net) para reconhecer isto. Ignorar o papel da religião , tanto no plano do aproveitamento político que dela faz a corneta salvífica, como no da real diferença, tão urticante ao multiculturalista, é uma asneira crassa. A dimensão religiosa desempenha um papel de ponta-de-lança: despolitiza, transnacionaliza, simplifica a identificação do inimigo. Era Schmitt que dizia que a nossa própria questão era a figura do inimigo ( "Der feind ist unsre eigne Frage als Gestalt"). Ele lá devia saber, para Schmitt, na guerra absoluta, quem se mata é o amigo. Os mais infímos pormenores da aplicação à vida prática da crença religiosa são o suporte ideal para o fundamentalista muçulmano, como o foram ( e em alguns casos ainda o são) para o ocidental. Toda a a gente sabe isto. O problema, para uma Europa de acolhimento, reside em tentar escapar deste leito de Procustes: se esticas a identidade religiosa, ela solta-se às mãos de uma particular visão da transcendência; se a encolhes, ela deixa mirrar os fiéis sob o sol frio da (in)diferença do bairro muçulmano.
Muito oportuno. E profundo e verdadeiro como sempre. Já no Soares não te posso acompanhar, Filipe. Embora concorde com a tua argumentação algo em mim me afasta daquilo, daquela encenação, dos autarcas tão rápidos a declinar o apoio. Eu sei que ele não precisa deles e não os ouvirá (no caso de se perceber o que dizem). Mas será ele o homem para os tempos que estão a vir?
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