ALIENS*: Tal como os cristãos no Líbano, os judeus de Israel são uma minoria no espaço geográfico onde vivem; sabem, portanto, o perigo que representa um futuro estado palestiniano. Como vive uma minoria num espaço hostil? Julgo que a Europa terá de responder vezes sem conta a esta pergunta nos próximos anos. A dimensão religiosa é fulcral para poder começar a fazê-lo. Um dos aspectos interessantes das crenças religiosas ( e Clifford Geertz explicou isto admiravelmente, já há muito tempo, em Islam Observed: Religious Develepment in Morocco and Indonesia, UCP, 1968), ao contrário de outras - políticas, filosóficas ou científicas - é que não são conclusões da experiência: antecedem-na. Aquilo que somos religiosamente, já o somos enquanto membros de uma comunidade: certos actos, costumes, lendas, objectos, já são valorizados positivamente pelos nossos contemporâneos, e antes deles, pelos seus ( nossos) antepassados. Isto coloca, como é bom de ver, uma enorme dificuldade ao tão falado tópico da integração étnica das comunidades muçulmanas na Europa. Aliás, a lalangue do eurocrata multiculturalista foge como o diabo da cruz da religião, e por isso prefere falar de "etnias". A reprodução em huis clos das práticas religiosas, favorece o prolongar imaginário de um território que ficou para trás. A expressão "Londonistão" ou os mercados árabes de Montpellier ( onde vivi) não são mais do que ilhas. que começam por ser absolutamente imaginárias. Quem tem o poder para deixar florescer essa ilhas? Os donos da terra de acolhimento, como é óbvio. A cisão entre estrangeiro/nativo, que na América de finais do século XIX se fazia ao Domingo, entre a igreja dos senhorios protestantes anglicanos e o saloon dos imigrantes polacos e irlandeses, é sempre, antes de tudo, uma cisão imaginada. Quem chega precisa de um espaço; depois, o espaço é dele. No caso europeu actual, a dimensão religiosa subverte todas as tentativas. A segurança social, os serviços de imigração, os partidos de esquerda, são todos do plano concreto. A crença religiosa, alienígena no duplo sentido, ignora-os.
*- do latim alienus, algo ou alguém que pertence a outro. No grego, allos significa outro. Existirá possivelmente uma forma em francês antigo da Occitânia, alien. E existe a tenente Ripley, claro.
Há muitos povos que são uma minoria no chamado mundo Árabe. Aliás eu defendo que uma democratização do mundo "Árabe" implica uma desarabização ideológica e o desaparecimento dessa entidade simbólica de supremacia rácica: Liga Árabe" que poderá passar a chamar outra coisa.
Aliás e para provocar houve quem defendesse que os Árabes são uma invenção Europeia:
"Chanceries, academics and newspapers are alike preoccupied with Arab grievances, demands and aspirations. From small beginnings thirty or forty years ago, the Arab question has become an industry similar to that of electronics or space technology. But the Arabs have also become a bore. Fifty or a hundred years ago an author who felt drawn to Middle Eastern subjects had a tremendous variety from which to choose: Barbary corsairs, belly dancers, fanatical Mussulmans, sultans, pashas, moors, muezzins, harems. Now, in a decidedly poor exchange, it has to be the Arabs.
By Arabs of course we do not mean the lively and interesting denizens of Cairo, Beirut, Damascus or Baghdad. We mean rather the collective entity which writers of books manufacture and in which they manage to smother the charm and variety of this ancient and sophisticated society. This collective entity is a category of European romantic historiography, and judged by its results, it is not a felicitous invention; for as they are described by their inventors the Arabs are a decidedly pitiable and unattractive lot; they erupt from the Arabian desert; they topple two empires, while making grandiloquent speeches in their rich and sonorous language; but all too soon the rot sets in, materialism and greed erode their spirit, and their caliphs change from lean puritans into fat voluptuaries. After that, it is all up with them: they are engulfed and enslaved by the Turks, hoodwinked by the British, colonized by the French, humiliated by the Jews, until at last they rise up again to struggle valiantly against Imperialism and Zionism under the banner of Nationalism and Socialism.
The ultimate insult is that the victims of this European travesty have accepted this caricature as a true picture of themselves, and as nature is said to imitate art have, in the process, come in fact to behave like it."
Elie Kedourie (Judeu de Bagdad, professor e crítico do orientalismo ) New York Review of Books, November 1967.(exerto)
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