BRINCADEIRAS DE CRIANÇA III: A justiça movimenta milhares de pessoas, entre juizes, ministério público, funcionários judiciais (estes, ligados ao Estado) e advogados (geralmente independentes). Ao mesmo tempo, o sistema está fortemente arreigado à questão dos prazos. As pessoas têm prazos para praticar os actos a que são obrigadas e esses prazos não são meramente indicativos, são para se cumprirem sem possibilidade de se poderem praticar fora dos prazos determinados (a coisa mais parecida com um prazo judicial é talvez apenas a data marcada para a abertura de um grande centro comercial...). Neste jogo, não vale vir dizer-se que se estava de férias, doente, que se perdeu a notificação ou que não se conseguiu: segundo as regras do jogo, enquanto se está em jogo, presume-se que as cartas expedidas foram recebidas após determinado prazo a partir do qual se conta o prazo para se agir, para se jogar, seja ele de 3, de 5, de 10, 15, 20 ou 30 dias. Se jogar, jogou. Se não jogar, jogasse. Perde a vez. Sai fora. Sai fora sem mexer nos indicadores, como sancionava um antigo jogo da minha infância. E as regras tendem a ser iguais para todos: o leitor perceberá certamente que seria batota o jogador A (ministério público, por exemplo) poder ter mais tempo para jogar que o jogador B (o arguido, mesmo que por intermédio do seu advogado).
Imagine então o leitor de seis anos um jogo de ping pong, com a bola sempre de um lado para o outro, com vários intervenientes e a realizar-se em várias mesas, durante todo o ano e durante o qual não se pode ir fazer um xi-xi. A bexiga é apenas aliviada 5 dias na Páscoa, 6 ou 7 pelo Natal, e parcialmente durante dois meses no verão. A questão anda a pôr-se no seguinte: porque são necessários dois meses de verão para aliviar a bexiga num jogo de ping pong? - Já lá vamos.
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